Caso não esteja a viver nas montanhas ou não goste de música, já deve ter ouvido dizer que o alinhamento da próxima edição do Primavera Sound de Barcelona foi tornado público. A previsibilidade do cartaz é discutível, mas não é necessariamente uma coisa má, sequer – o festival mantém certos traços ao longo dos anos, que garantem qualidade. O que, neste caso, significa «esta combinação de artistas indica, com grau elevado de certeza, que irei ver concertos incríveis na maior parte do tempo e, talvez, mais ainda do que aquilo que estarei à espera». Porque é isso que, geralmente, acontece.
Começando pelos nomes que deverão chamar mais gente, temos indie rock retro dos anos 2000, como The Strokes – desdobrando-se em concertos de Julian Casablancas + the Voidz e Albert Hammond, Jr. – e The Black Keys, uns muito solicitados Belle and Sebastian, e uns Interpol com novo fôlego. Podemos também contar com interpretações de álbuns históricos – este ano, é o caso de Horses, de Patti Smith.
Não faltam regressos de saudar, como Sleater-Kinney, Ride, The Replacements, Mineral, Death From Above 1979, American Football (de Mike Kinsella), Babes in Toyland. E, ainda… Damien Rice, com um ponto de interrogação, mas também com a probabilidade de arrastar muita gente.
Temos um par de génios do lo-fi, como o rei da pop, Ariel Pink, e o rei do mini-sintetizador Dan Deacon. Há também uma série de lendas da música indie dos anos 80 e 90: Thurston Moore, Ex Hex (banda nova de Mary Timony), The Julie Ruin (de Kathleen Hanna), Eels, Giant Sand (de Howe Gelb), Cinerama (de David Gegde, de Wedding Present) e The Church e OMD (os primeiros, mais obscuros – os segundos, os famosos, mas ambos para fãs dos 80s). As oportunidades de ver estas bandas são raras e boas.
O psych existe em vários tons, como os clássicos Spiritualized, ou Thee Oh Sees e Unknown Mortal Orchestra – ambos excelentes, sempre – e o novo e recomendável rock alternativo de Mac DeMarco (os seus amigos Viet Cong também actuam), Mikal Cronin, Iceage, Single Mothers, Benjamin Booker e Cheatahs.
Ao festival, vão fenómenos de anos recentes, como James Blake, Twin Shadow, Chet Faker, Alt-J, Perfume Genius, DIIV, Foxygen e Sleaford Mods. E excelentes escolhas a nível da electrónica excepcional, com Caribou e Underworld, e do hip-hop para brancos, mas óptimo, como Tyler, the Creator, Shabazz Palaces, Run The Jewels e Ratking.
Para as características do Auditori, que é o espaço de espectáculos com mais qualidade no Primavera, pensamos em grandes intépretes individuais: Sun Kil Moon/Mark Kozelek, Antony, José Gonzalez e Hiss Golden Messenger.
Depois, há música industrialóide-mas-não-bem, como Einstürzende Neubauten, Swans, Pharmakon – podendo incluir ainda aqui os drones pesados de Sunn O))) ou Earth, e metaleiros a sério, como Voivod. E as stonerices excelentes de Electric Wizard, White Hills e Pallbearer.
Ainda, temos uma ou outra piscadela ao emo, com referências como Brand New ou os prometedores The Hotelier. E artistas divertidos, mas inteligentes, como Har Mar Superstar (aqui como DJ) e The New Pornographers. E música de dança do eixo DFA, como The Juan Maclean, Simian Mobile Disco e Nancy Whang. E a nova música que está, rapidamente, a ganhar notoriedade – como Jungle (grande concerto em Portugal, em 2014), The Soft Moon, Twerps, Panama, Ibeyi, Kelela, Hookworms, Tobias Jesso Jr., Soak, Greylag, Strand of Oaks, My Brightest Diamond ou The KVB.
Existem ainda coisas difíceis de categorizar – minimamente, que seja -, mas que não se devem perder, como Health, Fucked Up, Panda Bear e Tune-Yards. E os recorrentes (constantes) Shellac, liderados por Steve Albini e que têm de ser vistos uma vez na vida – ou todas – e DJ Coco, para finalizar.
Uma pessoa pode sempre ter a tendência para pensar, «ah, fraquinho». São apenas nomes, num ecrã (considerando que foram dados a conhecer através de uma app). Só que acontece que o festival não é fraquinho. Aquilo que nos ensina o Primavera Sound de Barcelona, é que é preciso ir – há coisas que só se revelam, estando lá. Precisamos do Verão, todos os anos – e o Primavera Sound é o novo Verão.
Nomes restantes: Arthur Russell’s Instrumentals (interpretações do falecido Arthur Russell), Baxter Dury (filho do Ian), Ben Watt (dos Everything But The Girl, com excelentes trabalhos a solo), The Bohicas, Childhood e Younghusband (pop entre o retro 60s e 80s, mas sempre britânico), o baladeiro D.D. Dumbo, Der Panther (electronica), Disappears (com Steve Shelley, de Sonic Youth), Fumaça Preta (rockeiros do Brasil), The Ghost Of A Saber Tooth Tiger (Sean Lennon e a sua mulher), Hans-Joachim Roedelius (lenda alemã de electronica vanguardista), Jambinai (experimentalistas nipónicos), Kevin Morby (de Woods), Les Ambassadeurs (world music do Mali), Ceramic Dog da lenda do jazz de fusão Marc Ribot, Mdou Moctar (música Tuareg moderna), Movement (os australianos da electronica, não os americanos do reggae), Ought (post punk do Canadá), o baterista nigeriano Tony Allen, Torres (indie longínquo), Umberto & Antoni Maiovvi (com uma nova banda sonora para o filme Texas Chainsaw Massacre) e a bela franco-libanesa Yasmine Hamdan (que tem ligações a Jim Jarmusch).
DJs e produtores de referência: Andrew Weatherall, Dave P, Dixon, Gui Boratto, Jon Hopkins, Mike Simonetti, Richie Hawtin e Roman Flügel.
Nomes espanhóis, entre os quais costuma haver boas revelações: Boreals, Christina Rosenvinge, Dulce Pájara de Juventud, Exxasens, Joan Miquel Oliver, Las Ruinas, Los Punsetes, Miquel Serra, Mourn, Neleonard, Nueva Vulcano, Núria Graham, Ocellot, Perro, Rocío Márquez, Salvaje Montoya, The Saurs, Sr. Chinarro, The Suicide Of Western Culture.