A propósito do concerto desta semana no MusicBox, o Altamont quis saber mais coisas sobre a banda lisboeta Too Many Suns. Situados algures num território rodeado pela Pop, pelo Rock, e ocasionalmente pelo Shoegaze, o quarteto flutua alegremente entre guitarras mais ásperas e melodias arredondadas, sem arestas angulares.
“We are an indie rock band playing dirty pop and lovely rock“- é assim que os Too Many Suns se descrevem ao público internacional. Oiçamos então o que eles nos têm para contar, em directo.
Altamont: Olá rapaziada! Antes de mais muito obrigado por se disponibilizarem para este pequeno interrogatório acerca da vossa vida artística. O Altamont tem seguido atentamente o vosso percurso, mas nunca teve a oportunidade de questionar (em primeira pessoa) o que tem contribuído para a progressiva ascensão da vossa banda. A rodarem em rádios portuguesas de referência e já com um punhado bastante generoso de concertos dados em várias salas do país, esta quarta-feira é o dia da apresentação do vosso último longa duração intitulado Reverie na sala do proeminente MusicBox. Comecemos então pelo fim para ser mais divertido. O que é que Reverie tem que os outros não têm?
Obrigado nós, a Altamont é uma revista de referência e de qualidade para nós desde há muito tempo, pelo que o prazer é nosso de responder às vossas perguntas. O álbum Reverie centra-se mais na pop que nos álbuns anteriores ( em músicas como “Gold”, “Yesterday”, “Take Me Home” com Beatriz Nunes ou “1974” com a Surma). Sendo um estilo mais simples, no sentido de ser menos experimental, não nos impediu de o abordar com mais maturidade como banda, o que achamos que foi bem conseguido. No entanto, não deixámos a nossa maneira eclética de abordar a música de lado: “C’mon” com o Bansuri de Sunil Pariyar, “Kim Gordon” (um tributo evidente) são exemplos disso. As quatro participações no álbum de diferentes artistas também são uma novidade. Permitiu-nos expandir um pouco os nossos horizontes, até na maneira como construímos as músicas.
Rêverie é uma palavra francesa e que traduzida quer dizer devaneio. Porque é que escolheram esta palavra em concreto para o vosso novo álbum? Curiosamente a editora para a qual gravaram tem o mesmo nome.
A nova editora Reverie foi fundada pelo Hugo, o vocalista da banda, e marca também uma nova era para nós, com mais maturidade e autonomia. Essa foi sem dúvida uma das razões do nome do álbum, porque o nome também nos traz essa força simbólica da mudança. Estamos também inseridos na plataforma de distribuição indiemusic e com um novo CD já à venda, e faz-nos muito felizes ver todo esse trabalho criativo exposto finalmente. Para além disso as nossas músicas sempre tiveram um lado muito onírico, muitas vezes construídas numa mistura entre o sonho e a realidade, pelo qual o nome Reverie encaixou perfeitamente.
Neste concerto podemos esperar uma súmula do vosso reportório ou vão sobretudo tocar temas do novo álbum?
Vamos sobretudo tocar músicas do novo álbum, sendo um concerto de apresentação, mas não deixamos alguns “hits” de fora.
Quando deram o vosso primeiro concerto na vida, e a meio dele, o que é que vos passou pela cabeça?
O primeiro concerto como Too Many Suns foi no Lounge, em Lisboa, em 2019. O que nos passou pela cabeça? Pergunta difícil, mas creio que felicidade de sentir que fazíamos o que gostávamos, e que estreávamos uma banda que sabíamos que teria futuro.
O que acham que tem contribuído mais para a vossa crescente visibilidade no mercado nacional do pop-rock alternativo?
Temos tido uma crescente base de fãs orgânicos vindos das redes sociais e imprensa nacional e internacional. O facto de produzirmos trabalho de forma constante (mesmo durante a pandemia) também tem ajudado a uma certa consistência na nossa visibilidade, tendo quatro trabalhos e 28 músicas publicadas. Entradas em playlists e programas de rádios nacionais também tem sido uma boa ajuda nesse sentido.
Pergunta clássica mas por isso mesmo indispensável, apesar de óbvia. Porque é que escrevem e cantam em inglês?
As nossas influências para esta banda são sobretudo de lingua inglesa desde Neutral Milk Hotel a Pavement e Yo La Tengo ou Bob Dylan (etc., não saíamos daqui)… assim a língua inglesa aparece naturalmente. Mas quem nos conhece sabe que não nos agarramos a fórmulas, assim não será surpresa que músicas noutras línguas possam surgir no futuro.
Lembram-se do momento exacto em que decidiram criar os Too Many Suns? Chegaram a ter outros nomes em cima da mesa sem ser o esse?
Too Many Suns como banda apareceram depois de um breve telefonema entre o Hugo e o João (Baterista). Ambos estavam sem projectos e decidiram fazer um ensaio para testar umas malhas. O resto é história. Sim, chegámos a ter o nome Holy Grass, antes de Too Many Suns surgir. O nome Too Many Suns surgiu porque: 1. gostamos de Sol; 2. Havia muitas bandas com o nome “Sun” no nome, daí “Too Many Suns”.
Outra pergunta da praxe mas que nos ajuda a perceber de onde vêm e para onde poderão um dia ir. Que bandas é que mais vos influenciaram, e que actuais projectos vos estão a reter a atenção?
Influências (algumas entre muitas): Yo La Tengo, No Age, Beach House, Talking Heads, Real Estate, Stephen Malkmus, Dinosaur Jr., Tim Buckley, Rolling Stones, Beatles, National, T.Rex, Mazzy Star, Brian Jonestown Massacre, Connan Mockasin, Pavement, Sonic Youth, Stone Roses, Nirvana, Frank Zappa, Jimi Hendrix, Led Zeppelin, Deep Purple, dEUS, Mac DeMarco, Cocteau Twins, Mudhoney, My Bloody Valentine, Ride, John Frusciante, Cake, Smashing Pumpkins, Minor Threat, Iggy Pop, Neutral Milk Hotel, Mercury Rev e tantas outras que de certeza cabiam aqui e nos esquecemos.
E actuais projectos que estejam a reter a atenção?
Ruby Haunt, DIIV, Still Corners, Beach Fossils, Sailor Honeymoon, Magon e bdrmm
Se tivessem que escolher uma música para fazer uma cover neste concerto, qual é que eventualmente reuniria o consenso de toda a banda?
Qualquer uma de Nirvana. Isto porque nos ensaios estamos sempre a tocá-las por brincadeira, e é sempre um bálsamo (risos). Segue “Territorial Pissings” que tocámos no último ensaio.
Para terminar e para não vos roubar mais tempo de ensaio, quais as expectativas de futuro para os Too Many Suns?
Dar muitos concertos pelo país fora e fora do país, e sobretudo continuar a fazer muita música. Se há coisa que nos dá prazer como banda é explorar novos caminhos com toda a liberdade artística. O resultado são músicas novas sempre prontas a sair.