Começamos esta crónica pelo fim, pelo balanço do festival. Finalmente o Super Bock Super Rock recuperou a honra e a identidade. Voltou a ser um festival de Rock e voltou a estar bem organizado, depois de algumas edições desastrosas no Meco. Este ano não havia demasiada gente, mesmo estando cheio dava para circular à vontade, o som que saía dos palcos estava francamente bom e ouvia-se bem em qualquer parte da plateia. E o cartaz, tirando algumas excepções, estava bastante equilibrado e enquadrado com o festival que propaga Super Rock! Foi assim durante os 3 dias de festival – e chegados ao fim, muitos dos que lá estiveram vão querer lá voltar no próximo ano.

Neste 3º e último dia de SBSR a esmagadora maioria estava lá para ver Queens of the Stone Age – e o restante alinhamento, no palco principal, serviu apenas para ir aquecendo as hostes para receber os donos da noite. Começou com os portugueses Miss Lava, no seu stoner rock, seguiram-se os Ash, que se esqueceram que já não estamos nos anos 90. Gary Clark Jr estreou-se em Portugal com um concerto morno, espalhando blues rock do Mississippi – e abrindo caminho para os QOTSA.

Os Queens of The Stone Age podem muito bem ter sido os heróis da décima nona edição do SBSR. O crescimento da banda tem relevado maturidade, identidade, independência e bom gosto.
Tal como tinha acontecido com os afilhados de Josh Homme, os Arctic Monkeys, foi mais de uma hora e meia de temas rock n roll para a posteridade. Nota positiva para o público, participativo, incansável da primeira à última música, respondendo ora com as gargantas ou para os mais corajosos através do slamdance ou crowdsurfing. Sentiu-se no ar a sonoridade grunge dos noventas. Para quando outra participação de David Grohl e Mark Lenagan em temas dos Queens Of The Stone Age?
Falemos do concerto. Depois de ouvirmos a sonoplastia estridente de um vidro a quebrar surgem os primeiros acordes do primeiro tema da noite: “You Think I Ain’t Worth a Dollar, but I Feel Like a Millionaire” do álbum Songs for the Deaf. Homme e companhia, sem nunca tirarem o pé do acelerador, como de um velho cadillac a 200 km/h pelo deserto americano se tratasse, nunca deixaram o público respirar. A segunda da noite foi a electrizante “No One Knows” com os famosos breaks de bateria “à la” Dave Grohl. Eu sei que já perguntei, mas para quando um regresso, Dave?

Porque os QOTSA não são apenas uma banda do passado, ficámos a saber que os novos temas do álbum …Like Clockwork funcionam bem ao vivo. Gostámos de ouvir a roqueira “My God Is The Sun” e a sincera e calma “The Vampyre Of Time And Memory”. O cadillac de Homme e companhia continua a acelerar sem medo pelo deserto: “Burn The Witch”, “Sick. Sick, Sick” e a sexy “Make It Wit Chu”, uma homenagem de extremo bom gosto à arte de copular. Josh Homme simula com os dedos a penetração mas ninguém leva a mal porque o tipo é bestialmente cool.Existe na sonoridade da banda uma capacidade de fugir ao cliché do rock oferecendo algo que é original, fresco e honesto. Ouvimos vestígios de blues, stoner rock, indie rock e algo mais que não conseguimos descrever mas que recebemos com um sorriso de satisfação.
Na recta final, ainda sem abrandamento nem lugar para bocejos, destacamos o primeiro single da banda, “Lost Art of Keeping Secret” e para fechar uma versão memorável do tema “Song For The Dead” com Josh Homme a dizer: “we are going to give you everything we got right now”. Foi o que aconteceu.
O cadillac em forma de riffs de guitarra com uma tonalidade perfeita foi obrigado a parar. Adorámos a viagem.Queremos mais.

Entretanto, no palco EDP, a noite pertenceu aos !!! (Chk Chk Chk).
A tarde fez-se em português, com os Tara Perdida e os Asterisco Cardinal Bomba Caveira – lisboetas, que estão a meio caminho entre os Golpes e os Pontos Negros..
Depois entraram em acção os We Are Scientists que são daquelas bandas que dificilmente vão sair dos palcos secundários ou das actuações de fim de tarde. O seu primeiro álbum – With Love And Squalor – teve um bom feedback da critica na altura que foi editado, mais ou menos pela mesma altura que explodiu a cena dos Kaiser Chiefs, Arctic Monkeys, The Bravery e outros que tais. Mas foi por isso mesmo que passaram algo despercebidos nos álbuns seguintes, até porque não eram tão espirituosos ou atrevidos como nesse primeiro disco. Sábado, no Meco, o concerto teve pouco de atrevido. Foi, diria, normal. Os temas pareceram-me muito iguais uns aos outros, à excepção dos de With Love and Squalor, que infelizmente foram apenas três (se não nos enganamos!). Teve alguns momentos divertidos, com piadas sobre Super Bock e hamburgueres dificeis de digerir ou picardias amigáveis contra os Ash. E, verdade seja dita, souberam puxar pelo público, que começou por ser bem mais do que esperava, mas que foi dispersando à medida que se aproximava a hora de Gary Clark Junior subir ao palco principal.

Mas a noite de sábado foi tomada de assalto por Nic Offer! O vocalista dos !!! é uma besta de palco – canta, puxa pela plateia, e dança! Mas não é um dançar qualquer. É bailado contemporâneo, frenético, galvanizador! Ficamos cansados só de olhar para ele, de um lado para o outro do palco, para fora do palco, a dançar em cima do público. Arrebatador!
Ao mesmo tempo que decorre o show de Nic Offer, os restantes companheiros de banda vão soltando uma energia funk-rock e facilmente se faz uma festa assim!
Os !!! deram sem dúvida, e sem surpresa, um dos melhores concertos deste festival.
(texto e fotos: Ana Baptista, Duarte Pinto Coelho, Francisco Pereira e Vasco Sequeira)