Quando há muito pensávamos que estariam artisticamente mortos, os The Zutons regressaram com The Big Decider. Who Killed… The Zutons? Afinal, ninguém. Eles estão bem vivos!
Foi há exatamente vinte anos que Dave McCabe e companhia lançaram o seu álbum de estreia no mundo da música. Com o curioso título Who Killed… The Zutons?, o álbum foi bastante bem recebido pelo público e pela crítica. Numa altura em que outra banda inglesa dominava a cena musical inglesa (os The Coral, pois claro), os The Zutons pareciam empenhados em trilhar o caminho do sucesso, algo que foi sendo feito com algumas intermitências. Foram eles os autores de “Valerie”, por exemplo, tema de sucesso mundial na voz de Amy Winehouse, presente no seu segundo esforço de longa duração, o ainda bem interessante Tired of Hanging Around (2006). Depois, o esquecimento e a extinção da banda deu-se após o sofrível You Can Do Anything (2008). E quando já ninguém pensava ou se lembrava deles, regressaram em abril passado com The Big Decider, álbum que ouvimos com bastante atenção e empenho, pois nele se pode escutar uma genuína vontade de retomar um caminho que chegou a prometer, mas que se foi comprometendo aos poucos, até à (suposta) extinção.
Há um groove muito especial em boas partes de The Big Decider. Um certo toque retrô à maneira dos anos 70. A isso não deverá estar alheio o facto da produção do disco pertencer ao otherworldly Nile Rogers, esse mesmo, o co-fundador da banda mais Chic nascida na década atrás mencionada. Ele sabe da coisa, e ainda empresta a sua voz à quinta faixa (“Disappear”), para além de ter escrito algumas outras (“Creeping on the Dancefloor”, “Company” e “Best of Me”), sendo que a faixa que abre o álbum, a primeira das três mencionadas entre parentesis), é um tratado de bem provocar o corpo numa qualquer pista de dança. Já “Company”, na sua bonita timidez, é um dos mais belos momentos de todo o disco, balada serena, clássica, em que a voz de Dave McCabe combina maravilhosamente com a de Sean Payne e com o saxofone de Abi Harding, que também se ouve nos vocais. E por falar em voz, ouvir a de Dave McCabe faz lembrar a de James Skelly, dos já mencionados The Coral. “Pauline”, o segundo tema de The Big Decider, reforça a ideia que numa pista de dança é que se está bem e se espanta o que de mau a vida pode ter, sempre com a subtileza certa para que se evite o espalhafato. E o baixo, meu deus, o baixo de Tim Cunningham vale metade da canção. Que maravilha! “Whater” traz um ritmo mais percussivo (com maravilhosas subtilezas de piano) e uma vibe igualmente dançante. Tudo muito comedidamente festivo, com ótimos arranjos, tudo redondo e belo. “In Your Arms” poderia ser perfeitamente uma faixa de Magic and Medicine, dos já duas vezes referido The Coral. Sempre se disse, aliás, que as bandas em questão tinham bastantes afinidades, brincando-se até, quando de forma maldosa se dizia que os Zutons seriam a primeira banda-tributo dos The Coral. Enfim… O tema que dá nome ao álbum volta a puxar pelas pernas, uplifting como algumas outras de The Big Decider, repleta de uma voltagem cantarolante que apetece ouvir e ouvir e ouvir. Todo o disco deve ser um caso sério quando tocado ao vivo, e que bom seria termos a banda num qualquer palco luso no verão festivaleiro que já começou. Se atuassem num mesmo festival com os The Coral no line up, isso seria duplamente formidável.
Para finalizar, duas notas: a primeira para acrescentar uma evidência, o sempre charmoso saxofone da igualmente charmosa Abi Harding, que quando se ouve… não se ouve mais nada. E, por fim, salientar a boa forma de uma banda que parecia ter desaparecido no esquecimento dos melómanos do mundo, e que em boa hora soube dizer bem alto que, afinal, ninguém os matou. Estão vivos e The Big Decider é um bom testemunho disso mesmo. Thumbs up for The Zutons!