O sétimo álbum dos Cure é a melhor amostra de toda a palete sonora que a banda deu ao mundo.
A discussão sobre qual o melhor álbum dos Cure pode ser longa e exaustiva, sendo que no final só o gosto pessoal e a empatia decidirá. Mas o que parece ser unânime é que Kiss Me, Kiss Me, Kiss Me é o mais amplo em termos de incluir toda a diversidade do universo Cure, ou melhor, todo o imaginário que popula a cabeça de Robert Smith. Com isso, abriram-se as portas ao sucesso mainstream, sobretudo no mercado americano onde os Cure nunca tinham conseguido realmente entrar, tendo com este álbum aparecido no Top40 da Billboard, a maior referência na altura.
Lançado como álbum duplo, mas pensado para caber somente num CD e cassette, Kiss Me, Kiss Me, Kiss Me permite-nos assim revisitar o passado mais gótico da banda, de lamento puro e duro a abrir (“The Kiss”) e a fechar o álbum (“Fight”), há êxitos pop ultra-dançáveis (“Why Can’t I Be You?”, “Hey You”, “Just Like Heaven” – o maior êxito da banda em termos de top de singles), há simples melodias de desamor (a deliciosa “Catch”) e uma antevisão do que viria a seguir com Disintegration, um lado mais shoegaze (“If Only Tonight We Could Sleep”).
Os Cure apareceram vindos do meio alternativo e por ali deambularam uns anos nesse nicho, construindo uma leal base de fãs sobretudo em terras de Sua Majestade, e abrindo-se cada vez mais ao mainstream sem com isso alterarem a sua filosofia e sonoridade, o que é louvável só por si. Serem ainda hoje, em 2019, cabeças de cartaz em grandes festivais internacionais mostra que marcaram uma geração inteira que ainda hoje sabe de cor as suas músicas e os acompanha fielmente. Não sou da geração que foi agarrada pelos Cure, que se vestia como os Cure, preto denso e absoluto, mas com os anos fui descobrindo cada vez melhor e hoje há poucas dúvidas do seu papel marcante no universo pop-rock que nos rodeia.