Agora conhecemos toda a história. No início dos anos 80, então adolescente, quando tantas vezes ouvi o álbum enquanto estudava, só procurava que aquela música pop fosse um complemento perfeito. E nunca falhou.
Mais de quatro décadas depois do seu lançamento, e num mundo que nada tem a ver com o de 1979, podemos olhar para o álbum Breakfast in America, dos Supertramp, com profusa informação, então indisponível. Por exemplo, que não teria preocupações de conceito, nem marcas de prog rock, contrariando antecessores como Crime of the Century (1974), Crisis? What Crisis? (1975) ou Even in the Quietest Moments (1977). Era, pelo menos na aparência, uma coleção de canções pop que soavam bem e pronto, ponto final.
Só que as músicas da banda britânica, que iria fixar-se em Los Angeles, podiam também ser um espelho dos desencontros de opinião entre Davies e Hodgson. Ou transmitir a sua visão satírica da América e de uma sociedade marcada pelo consumismo e pela sua submissão ao dinheiro, a uma obsessão por fortuna e fama, numa palavra: materialista. Aí estão “Child of Vision” ou “Gone Hollywood” para o demonstrar, mas também o tema que dá título ao álbum. Mas, se essa questão fosse colocada aos próprios intérpretes, como aliás foi, ao longo do tempo, os protagonistas sempre desvalorizariam, falando em “coincidências” e não numa crítica mordaz e feita com intenção.
“Goodbye Stranger” (que esteve para se intitular “Hello Stranger” e dar nome ao disco, prevalecendo a vontade de Hodgson para o resultado final) e “Take the Long Way Home” expõem problemas de identidade e desumanização na sociedade norte-americana. “Lord is it Mine” é uma balada pungente, remetendo para outra, “Babaji”, integrada em Even in the Quietest Moments. “Oh Darling” é uma promessa de sedução, “Just Another Nervous Wreck”, “Casual Conversations” uma carga de amargura, sempre com Rick Davies a compor e a cantar.
Breakfast in America foi minha companhia, no dealbar da década de 80 (os discos demoravam muito mais tempo do que hoje a chegar a Portugal), como adolescente no secundário quando me preparava para testes. Ouvi-o tantas vezes que, sem me esforçar por isso, ainda sei de cor as letras de várias das suas 10 canções. “The Logical Song” ou “Breakfast in America”, dois dos singles de maior êxito e que contribuíram para vendas do disco acima dos 20 milhões de exemplares, são só dois exemplos. Eram simples, bem tocadas, ficavam no ouvido e muitas vezes tema de conversa no grupo de amigos.
Sabendo que Famous Last Words (1982), sucessor em estúdio – de 1980 é Paris, álbum gravado ao vivo na capital francesa – foi o último disco com Roger Hodgson, faz sentido apontar para o trabalho de maior sucesso comercial da banda como o princípio do fim. Os desacordos entre os compositores/ vocalistas/instrumentistas Rick Davies (mais jazzístico) e Hodgson (a face pop da banda) acentuaram-se, assim como a vontade deste último em passar mais tempo com a família e encetar uma carreira a solo. Resultado? Os dois lados ficaram a perder: nem o grupo voltou a conhecer o sucesso de outrora, nem Hodgson alguma vez seria tão bem-sucedido.