O dia era 8 de Março de 1994. A morte de Cobain ainda estava a um mês de distância. Os Pearl Jam tinham editado uns meses antes o aclamado Vs e os Alice in Chains preparavam o sucessor de Dirt. Business as usual em Seattle, a meca do Grunge, a Liverpool dos anos 90, a “mãe” do género musical que continuava a fazer mossa na indústria e na juventude dos anos 90 do século passado.
Quanto aos Soundgarden o sucesso de Badmotorfinger (1991) abria portas que os discos anteriores (Ultramega OK e Louder than Love) não haviam conseguido. Quem os viu em Alvalade em 1992 a abrir para Faith No More e Guns N’ Roses certamente que não tinha ficado indiferente às guitarras de “Rusty Cage” ou ao poder de canções como “Jesus Christ Pose”.
Para o disco seguinte, chegava a hora de olhar para cima e dar um passo em frente. Chegou no início de 1994, Superunknown essa espécie de Exile on Main St. da geração rasca. Um disco eclético, inspirado, variado musicalmente e que estava em plena sintonia com os tempos.
Para Chris Cornell, o vocalista esta era a sua coroa de glória. Agora de cabelo cortado estava preparado para ser uma superestrela para rodar 24/7 na MTV (nos tempos em que estes ainda passavam: música). A começar pela rocalhada imediata, “Spoonman”, homenagem a um artista de rua “Artis Spoonman”, que inclusive fez uma aparição especial no vídeo promocional.
Sob a batuta do produtor Michael Beinhorn, o grupo disparou em todas as direcções, alternando entre as habituais canções mais típicas do rock-grunge como “My Wave”, “Let Me Drown”, “Superunknown” e Limo Wreck”; temas mais calmos, pseudo-baladas como “Fell On Black Days” ou “The Day I Tried to Live”, perfeitas para rodar nas rádios.
Mas falando de hit-singles, nada bate “Black Hole Sun” que faz a sua aparição a meio do disco e que rapidamente catapultaria os Soundgarden para as bocas do mundo. Empurrado por um teledisco marcante, com recurso a imagens distorcidas, o grupo tinha aqui a sua oportunidade de agarrar um “Jeremy” (Pearl Jam) ou um “Come as You Are” (Nirvana).
O single elevou o estatuto do disco a platina e fez com que “Superunknown” atingisse uns anos depois a impressionante marca das 10 milhões de unidades vendidas. Para Cornell juntamente com o guitarrista Kim Thayl, o baixista Ben Shepherd e o baterista Matt Cameron a chegada do estrelato coincidia com a desorientação e a sensação de vazio. Não demoraria muito para que surgissem os sinais de desintegração na banda que se separou abruptamente três anos depois.
Por enquanto, gozavam um relativo mas temporário mar de rosas. A prova era da liberdade que Cornell, dava aos outros para trazerem as suas ideias. Muito interessantes as abordagens ao psicadelismo como em “Half” escrita por Shepherd; o som mais à Black Sabbath de “Mainman” da autoria de Cameron. Para Kim Thayl deixo os louros dessa pérola negra chamada “4th of July”. Se houvesse um Top 10 para músicas sobre o tema do apocalipse esta seria uma das mais sérias candidatas à lista.
“Like Suicide”, a faixa bónus fecha com chave de ouro, a obra-prima dos Soundgarden e um dos melhores discos da década de 90. Aliás em Março de 94, quando tudo parecia normal não auguraríamos melhor futuro a esta geração de bandas. Até que um belo dia…um homem chamado Kurt escreveu uma carta que acabava citando Neil Young: “It’s better to Burn Out than To Fade Away”…