Esta história começa com uma residência artística que junta Norberto Lobo e Ben Chasny (Six Organs of Admittance), ao abrigo do Festival Tremor. Deste encontro sairia a inspiração para homenagear o centenário do aniversário do virtuoso mestre da guitarra portuguesa, Carlos Paredes (1925).
Ambos, em recente entrevista ao Público, reafirmam a sua antiga paixão pelo trabalho de Paredes (Norberto Lobo nomeou o seu primeiro álbum de “Muda de Bina”, alusivo à magnifica banda sonora “Muda de Vida”; Ben Chasny dedicou-lhe a música “Lisboa”, do álbum “School of the Flower” dos Six Organs of Admittance), daí a preparar esta pequena tour, foi um tirinho. A tour arrancou em Lisboa, na Culturgest (quiçá, uma das melhores salas de espetáculo desta cidade), no dia 13 de fevereiro, e vai passar por Braga, Espinho, Coimbra, Faro, terminando no Festival Tremor, São Miguel, Açores.
Amigos, eu não li a entrevista que os músicos deram ao Público um dia antes do concerto. Tivesse eu lido, teria refreado as minhas expectativas. A primeira frase “Norberto Lobo e Ben Chasny querem deixar bem claro: não vão fazer versões de Carlos Paredes”. Ora, pois, quando temos um concerto enquadrado nas celebrações de um artista e dois guitarristas são convidados a homenagear dito artista, não seria de esperar que fossem interpretações das músicas? Errado.
Posto isto, o Auditório Emílio Rui Villar estava cheio (esgotado) e o concerto começou pelas 21h10, com o baixar das luzes (para lá de lusco-fusco), criando um ambiente muito intimista e especial, entraram os dois músicos, cumprimentando o público com um aceno, rapidamente se sentando, cada um em seu espaço, no palco.
Ben Chasny e Norberto Lobo têm estilos de música bem distintos, mas com uma sinergia envolvente e determinada, comunicando entre si apenas (quase) com olhares e levantadas de queixos (“estavam bem entrosados”), aquilo que saiu das duas performances foi especial. Chasny com a sua guitarra acústica e Lobo com a elétrica, criou-se uma simbiose muito interessante. Voltando à questão da setlist, os músicos tocaram músicas dos seus respetivos repertórios, com algumas diferentes inspirações, e o resultado foi um som coeso, com alguns laivos das 12 cordas de Carlos Paredes (desculpem, mas foram poucos).
Foi uma hora de música ora mais folk, ora mais instrumental, ora mais alusiva à guitarra portuguesa, com Norberto Lobo e Ben Chasny a mostrar que são músicos excecionais (e criativos), com uma química muito boa. Houve tempo para um encore em que Norberto Lobo agradece ao público e indica que vão prestar uma “singela” homenagem e tocar a “Muda de Vida”, enquanto momentos antes foi projetada na parede atrás do palco uma magnífica fotografia de Carlos Paredes, enquadrando os músicos.
Gostámos, só queríamos era que a inspiração de Carlos Paredes tivesse sido mais clara.
Fotografias: Vera Marmelo













