Conhecem aquela expressão “se eu tivesse uma moeda por cada vez que…”, ora se eu tivesse uma moeda por cada vez que ouvi Silence becomes It ainda hoje estava rica. Um dos discos mais icónicos dos anos 90 em Portugal é relembrado agora, 26 anos depois.
Quando comecei a escrever sobre o disco de estreia dos Silence 4, considerei ouvi-lo na íntegra (novamente) na plataforma Spotify, mas acabei por ir procurar o CD, colocá-lo na velhinha aparelhagem, uma audição vintage para um disco vintage.
Percebi que a capa estava autografada com caneta prateada que debotou para a folha seguinte, (confesso que já não me lembrava) aqueles rabiscos lembraram-me também da crush que tinha pelo Little David Boy (se nunca foram uma miúda de 16 anos não façam juízos de valor). Os Silence 4 foram um verdadeiro fenómeno nos anos 90, quem não se lembra do seu mítico concerto, no encerramento da Expo 98?
A banda, constituída poucos anos antes por David Fonseca (voz e guitarra), Sofia Lisboa (voz), Rui Costa (baixo), e Tozé Pedrosa (bateria), quebrava com o monopólio musical de Lisboa e Porto, uma banda de Leiria que até gravava maquetes no Castelo de Leiria. “Leiria não existe” era na altura uma realidade, pelo menos na música portuguesa.
Silence Becomes It foi, provavelmente, o maior sucesso de uma banda portuguesa que canta em inglês, ultrapassou as 240 mil cópias vendidas, alcançando a marca de sêxtupla platina.
O motivo de todo este sucesso, ainda hoje, é para mim desconhecido, acredito que a heterogenia dos Silence 4 fazia com que muitos se pudessem identificar com a banda: uns pela música pop acústica, outros pelas letras quase sombrias, outros até pelas harmonias vocais. Pessoalmente, o disco encontrou-me numa altura em que queria sair da claustrofobia do grunge, mas na qual não estava preparada a 100% para a pop da altura.
É difícil para mim dizer qual das canções mais me marcou, se a desconcertante “Angel’s Song”, se a enfurecida “My Friends”, se as canções cantadas em português “Eu Não Sei Dizer” ou “Sexto Sentido” (esta última com o gigante Sérgio Godinho), ou até a faixa escondida “Teeth Against The Glass” (que emoção era encontrar uma faixa depois do silêncio). Aquilo que consigo dizer é que hoje, quase após 30 anos do lançamento do disco, ainda consigo cantá-las do início ao fim.
Provavelmente, se o disco tivesse sido editado em 2024 já não teria o sucesso do passado, o mundo girou várias vezes, as conjunturas musicais (e não só) já não são as mesmas, mas Silence Becomes It não morreu, está guardado para muitos de nós, numa espécie de cápsula do tempo que voltamos a abrir amiúde. As canções continuam intocáveis e o sucesso da banda também, basta ver o burburinho que aconteceu quando os Silence 4 anunciaram vários concertos em 2025, para comemorar os seus 30 anos como banda.