Um primeiro trabalho envolvente e que cria vontade de ouvir mais: é assim com o disco tudo, um pouco, de Rita Cortezão.
Entrar no disco de estreia de Rita Cortezão, intitulado tudo, um pouco, assim mesmo, sempre com letra minúscula, é desencadear uma navegação por territórios de jazz, pop e indie – nada de estranho, tendo em conta a formação da própria Rita, sobretudo na área do jazz (toca desde os cinco anos, estudou na New Music School e no Hot Clube, neste caso com as professoras Margarida Campelo e Beatriz Nunes, mas também com Joana Espadinha e João Firmino).
Ela dá a voz e contribui com piano, teclas, coros, programadores e glockenspiel, espécie de primo do xilofone. Mas não está só: Benjamim, co-produtor do álbum, participa com guitarra, bateria, programadores, baixo elétrico e também teclas. Há ainda, no tema “lisbolha”, a intervenção de Francisco Nunes com um baixo elétrico.
No conjunto, há uma dezena de canções em tons sonhadores e melancólicos em que se traça uma identidade própria, sem deixar de estabelecer pontes com marcantes intérpretes femininas destas atmosferas. Mas o começo até remete para sonoridades mais antigas: “nada mais simples”, por exemplo, soa a “Turn It On Again”, tema do álbum “Duke”, editado em 1980 pelos Genesis.
Seguem-se momentos em que é inevitável pensar em nomes como Márcia e Luísa Sobral ou até no projeto This Mortal Coil (mais pela sonoridade do que por proximidades da voz de Elizabeth Fraser): “o tempo que fica”, “dia após outro” (e aqui o piano abre a porta para pensarmos em certas deambulações do próprio Paul McCartney…); “em três” traz Suzanne Vega à lembrança, “o impossível” parece piscadela de olho a PJ Harvey; entre tristezas e vivacidades, sonoras e estéticas, de onde também emergem Fiona Apple, Adrianne Lenker, Tanita Tikaram ou Sharleen Spiteri, lá estão o já mencionado “lisbolha”, mas também “só para mim”, “um pouco de tudo”, “é para sempre” e “o resto”.
Aos 24 anos, depois de ter sido uma das ganhadoras, este ano, da 5.ª edição do concurso Palco Esperança, iniciativa conjunta da SIC Esperança e do EA Live Évora, Rita Cortezão deixa propostas que abrem o apetite para mais. Cá a esperamos para outras doses de ambição musical.