
Samara Lubelski fez da última quarta-feira uma quarta-feira mais lúgubre do que o que a chuva antevia. As ruas sombrias do Bairro Alto concentravam todo o seu silêncio na Galeria Zé Dos Bois, para ouvir em nome próprio a companheira de Thurston Moore (ex-Sonic Youth) na banda que a levou àquela mesma sala há dois anos atrás.
Samara tem vindo a provar ao mundo ser uma artista confortável em qualquer registo ou exploração musical. E neste concerto vimos isso mesmo: uma Samara completamente diferente daquilo que nos habituou a ouvir nos seus álbuns de estúdio. Foi uma Samara sonhadora, acompanhada pela transcendência drone e experimental do seu violino. Distorceu-nos os sonhos e encaminhou-nos para um ambiente de instrospecção, onde nos deixou à mercê das suas notas carrancudas e sinistras.
Samara desenhou um quadro a partir das cordas do seu violino, onde tudo é arte até aos cantos da moldura. Este concerto teve essa graça, sem pinceladas a mais nem a menos. Na despedida, deixou-nos como vultos taciturnos na realidade paralela que se criou na Sala da Baronesa da ZDB.
(Fotos gentilmente cedidas por Vera Marmelo)