Passavam poucos minutos das 23h, quando Rita Redshoes, subiu ontem à noite ao palco do Lux e apresentou em Lisboa o seu terceiro álbum de originais, Life is a Second of Love.
Este é um álbum que, segundo a cantautora, é mais centrado no presente e menos no passado ou na ânsia do futuro. São 12 canções que vivem intensamente o momento, o amor, a generosidade e a autenticidade. Engraçado que ao longo do concerto são estas as palavras entoadas de forma mais acentuada: “generosity”, “vitality”…
Com uma sala pouco cheia, um palco intimista e dois grandes RR luminosos, o público acarinhou o regresso da cantora, que entrou séria e concentrada nas primeiras três canções. Acompanhada com a sua guitarra, iniciou o concerto com a faixa introdutória “Second of Love”, seguido de “Broken Bond”, o tema que antecipa o álbum.
Neste primeiro single, agitam-se as águas da nova essência da artista e revela-se esta nova identidade que nada tem a ver com a faceta pop, perfeita e “happy” dos álbuns anteriores. É crua, é dura, é madura!
Rita cumprimenta timidamente o público e lança-se no seu próximo momento “No Matter What”, tema acompanhado por uma percurssão e melodia crescentes. Esta parece-me ser uma das canções mais híbridas e ricas do álbum, uma coisa à altura de Joni Mitchell. Uma surpresa melódica, eu diria.
Só ao fim de três temas é que a cantora começa a perder a timidez e a entrar no ritmo. Aqui já brinca com os presentes, em relação ao ar condicionado, pergunta se querem “um whiskizinho” e lá ficamos nós igualmente mais descontraídos. Seguem-se mais duas canções do álbum, sem muito a assinalar, até que surge “Blood Deal” na curva! A cantora conta-nos em tom irónico que estava sentada a tocar a sua guitarra e de repente surge esta canção. Mas partilha que não sabe se é dela ou não, enquanto olha com ar cúmplice para o teclista…hum. Ouvimos aqui uma balada romântica, cantada de forma sentida e com arranjos instrumentais quase cinematográficos.
Segue-se a dramática “Jungle 81” retirada do álbum anterior Lights&Darks, antes de entrar em cena o produtor deste seu novo trabalho, Gui Amabis. O produtor brasileiro cantou com Rita dois dos momentos mais intimistas do concerto. Começou com “Curve Dance Dreams”, composição de Gui Amabis que merece a nossa sincera atenção, seguida de “Crepúsculo”. Este último tema cantado em brasileiro, faz parte do seu álbum Trabalhos Carnívoros e confesso que foi o meu momento preferido…intimista, profundo e com uma harmoniosa sintonia de vozes. Rita, se me estás a ouvir, por favor canta mais em português brasileiro, porque a tua voz fica simplesmente linda. Quiçá um próximo trabalho com artistas brasileiros e/ou repertório brasileiro?
“Woman, Snake” aparece um pouco mais à frente, intensa e desconcertante, principalmente quando sabemos que esta delirante melodia é fruto do seu estado febril aquando da bactéria que a vitimou durante umas férias no Senegal. O refrão foi escrito entre febres e dores, mas não deixou de ser poderoso.
Rita termina por esta altura com mais duas das antigas, “Choose Love” e “Captain of My Soul”, também temas do álbum Lights&Darks. O regresso faz-se naturalmente segundos depois, com “Hey Tom”, a dançante e charmosa faixa do seu primeiro trabalho, Golden Era. No final, ainda há tempo para repetir “Broken Bond”, só para assegurar que fica no nosso ouvido este Verão.
Tudo isto sob o olhar atento do produtor Gui Amabis, que nos bastidores esboça um sorriso de admiração pela actuação da cantora. Minutos depois de ter confessado ao público que quando recebeu o convite de Rita Redshoes para participar neste trabalho ficou feliz e percebeu que “esta menina sabe cantar”. Para concluir, resta-me apenas citar o que se disse na crónica do disco – “Rita deixou de ser menina, tornou-se Mulher”.
[wzslider lightbox=”true”]
(Fotos: Duarte Pinto Coelho)