
Mais surpresas no Primavera El Sonido. A começar pelo regresso da chuva que, mesmo em quantidades inferiores ao absurdo, continuou a ser considerável e mais constante. Feito o boletim metereológico, podemos falar das actuações mais prejudicadas pelo estado do tempo: i.e., John Grant.
Foi outro dia de encontros esperados – entrevista com os queridos Speedy Ortiz – e inesperados: Hamilton Leithauser de The Walkmen, Matt Mondanile de Real Estate e os rapazes de Jagwar Ma.
Loop (palco ATP): Rock hipnótico, mas com pouco de concreto a acontecer.
Speedy Ortiz (palco Pitchfork): Herdeiros do espírito do indie rock americano dos anos 90, e muito bem. Uma banda que, a julgar pela reacção do público, corre o risco de só vir a ser mais bem apreciada daqui a 20 anos – tal como aconteceu com a maioria dos seus antecessores. Para quê esperar? Tenha bom gosto agora. Tocaram algumas canções novas, entre as que estão presentes nos dois discos da carreira do grupo e as do novo EP, o excelente Real Hair. Vão longe.
Haim (palco Heineken): Apenas vi o final do concerto, mas parece que um concerto das meninas Haim pode bem valer a pena.
Slowdive (palco Sony): Uma banda muito boa, com uma oportunidade de tocar para 30 ou 40 mil pessoas, mas a comprovar que, face ao tédio instalado durante a actuação, foram vítimas do hype gerado à sua volta. É certo que são quase a mesma formação de Mojave 3 e que pertencem à mesma geração de My Bloody Valentine. Mas não faz sentido que tenham mais público que estes últimos e a sensação que deu foi que isto não aconteceu por acaso. E ficou também demonstrado que o público tem maneiras estranhas de se informar. Os primeiros comentários de Facebook ao anúncio do alinhamento do festival “berravam” o nome da banda, que nunca foi muito mediática, e terão tido aqui demasiada influência. Acção, pouca – o que, por comparação, não acontece em MBV.
FKA Twigs (palco Pitchfork): Tendo visto apenas o final do concerto, deu para perceber que é suficientemente esquisito, considerando o contexto musical em que se insere, para despertar curiosidade.
The War on Drugs (palco Pitchfork): Assolados por problemas técnicos, os americanos começaram uma verdadeira War on Soundcheck, tendo começado o concerto com 40 minutos de atraso. O som acabou por ser bastante bom, apesar do material não ser o mais emocionante.
Slint (palco ATP): Agora sim. O Primavera Sound é um festival que proporciona muitas opções, e estas geralmente incluem propostas de música inteligente e complexa. O que inclui grupos que raramente actuam em festivais desta magnitude, como Slint. Para a sua qualidade, mas também para a sua influência histórica (foram dos primeiros grupos a fazer math rock e pós-rock), os Slint atraem muito menos gente do que merecem. Basearam o alinhamento no clássico Spiderland. O concerto foi um passeio do domínio de uma banda sensível, cerebral e capaz de jogar com dinâmicas muito distintas, frequentemente na mesma canção. É um privilégio poder vê-los.
Deafheaven (palco Pitchfork): Black metal, mas com tons cor-de-rosa. O que pude ver foi demasiado curto para descrever com justiça.
Kvelertak (palco Vice): Atenção, festivais de Portugal. Estes noruegueses são capazes de ser a banda que procuram. Aqui, a intensidade é constante. É uma espécie de rock n’roll construído com metal. Foi um grande concerto, daqueles que funcionam como exorcismo.
Jagwar Ma (palco Ray-Ban): Agendados como a maior atracção do horário nocturno, começaram a tocar pouco depois das 3 da manhã. A plateia estava cheia para ver estes filhos das bandas de Manchester do início dos anos 90. Muita festa.
Não vi os cabeças-de-cartaz, The National, nem concertos que seriam certamente bons, como os excelentes !!! (Chk Chk Chk).
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(Fotos cedidas por Dani Canto e Eric Pamies)