Começou o primeiro festival verdadeiramente de Verão. E em comparação ao ano passado o Verão desta vez marcou presença em grande estilo. Sol forte, calor irresistível, meninas de bikini. Win-win situation. A música, essa, ainda não deu o melhor ar de sua graça mas os Temples não deixaram ninguém indiferente. Já lá vamos.
Os primeiros a estrear o palco Heineken foram os Jacarés. Com a garotada sub-15 já instalada nas grades do palco principal, a banda portuguesa vencedora do concurso oeirense de bandas trouxe uma mistura de funk com soul e hip-hop quente ao Passeio Marítimo de Algés. Apesar do pouco público, dado que o festival tinha acabado de abrir as suas portas, foi o suficiente para uma alegre festa cheia de pontos altos e muita interacção entre o público e os répteis.
De seguida, no mesmo palco, foi a vez de Noiserv (David Santos). O português multi-instrumentista que faz música com qualquer coisa que lhe apareça à frente adoptou uma presença de amena cavaqueira, desabafando com o público por causa do calor que se fazia sentir, entre outros reparos que ia fazendo. Para ele o tempo já não estava “Bontempi”, muito calor, ou talvez não… Para nós estava óptimo. Não sendo a sua música ideal para festivais, Noiserv é bom naquilo que faz e a isso se entregou com honestidade, sem pretensiosismos nem manias de grandeza, e, se fecharmos os olhos, quase parece que estamos a assistir a uma banda completa. Palmas a David Santos (Noiserv). Sem noção do tempo, Noiserv pergunta quanto tempo lhe falta para ainda tocar uma música. Em resposta o público faz ver que ainda pode tocar mais duas. O ambiente estava morno mas o som vindo do palco era bom, mas muito gente estava à conversa. À espera de Temples ou de Arctic Monkeys?
Se era de Arctic Monkeys então não ficaram defraudados com a banda de Kettering. O ambiente era de felicidade, visto que o tempo também ajudava a tal. E felicidade e bom ambiente foi o que trouxeram os Temples, com o seu pop neo-psicadélico. Cabelos extravagantes, um baixista igual ao Roger Waters no início dos 70s, um baterista de óculos iguais ao Willy Wonka e melodias delico-doces que de vez em quando passavam para um quase stoner rock. Com duas pequenas jams pelo meio, esta passagem dos Temples por Portugal foi curta mas marcante. Saltos, palmas, gritos, crowdsurf e até um pequeno moche aconteceram no concerto, para o espanto de todos. Concerto decente dado pela banda de Kettering, prejudicada pelos raios de sol, tal como foram os Tame Impala o ano passado. O psicadelismo é difícil de recriar. O que se cria num estúdio precisa de muito mais gente e efeitos para que o que sentimos ao ouvir um disco seja o mesmo que se ouça ao vivo. Se o ano passado os Tame Impala quase conseguiram recriar, embora o sol forte não seja amigo, os Temples não foram tão fortes nessa situação, porém foram competentes e durante cerca de uma hora estivemos bem perto do que Sun Structures nos deu durante estes últimos meses.
Após The Lumineers e Imagine Dragons, bandas que pouco vão acrescentar à história da música, surgiu, no palco principal, Interpol, uma das bandas mais importantes do renascimento do Rock ou do Indie. A banda de Paul Banks foi muito importante para contrariar o Nu-Metal que surgiu no fim dos anos 90. The Strokes, Black Rebel Motorcycle Club e Interpol foram o trio que destronaram um movimento que ninguém queria e fizeram toda uma nova geração emergir. Vocês.
Hoje eles já não mandam. Se em 2007 eram uma das bandas mais importantes do Super Bock Super Rock, hoje estão a abrir para Arctic Monkeys, quase 10 anos mais novos mas muito mais importantes. A banda de Paul Banks não soube reagir ao grande sucesso de Antics (2004) e Our Love to Admire já foi o princípio do fim. Seguiu-se o disco homónimo de 2010 e o recém anunciado El Pintor. A vontade é boa mas o que nos dá a lágrima ao canto do olho são as músicas de do primeiro e segundo disco. A época que o Indie Rock era rei e senhor. “C’mere”, “Not Even Jail”, “Slowhands”, entre outros, são hinos que nenhum disco dos Interpol irá ultrapassar. Mesmo que “Lights” seja um som fantástico, o som da banda estará sempre ligado aos primeiros discos e nunca se irá libertar. Como escrevemos em 2010, o Indie dos Interpol está datado…
Datado é a palavra que menos podemos associar à banda de Alex Turner. Começar com três músicas do último disco, A.M., tocar poucos hits, e manter um concerto bastante interessante não é para qualquer banda com cerca de dez anos. E, tal como bandas como os Radiohead, embora não querendo comparar a qualidade das duas, não obstante cada uma ter as suas virtudes, os Arctic Monkeys estão a fazer um percurso à lá Radiohead. Os antigos hits são coisa do passado e o que interessa é o momento de agora, o que lhes vai na alma e coração e embora vá contra muitos fãs, a banda está no caminho certo. E quem os ouve sente que a banda de Sheffield não está confortável a tocar “I Bet That You Look Good on the Dancefloor” ou “Fluorescent Adolescent”. “Do I Wanna Know”, “Why’d You Only Call Me When You’re High?”, “Snap Out of It” encaixam muito mais neste novo estilo de Turner e companhia e ainda bem. Parar é morrer mesmo que músicas como “505” ou “She’s Thunderstorms”, antecedida pela fantástica “No. 1 Party Anthem”, nos façam recordar que os Arctic já têm mais história do que a sua juventude aparenta.
Durante o concerto dos cabeças de cartaz, ouvia-se a soul e o R’n’B de Kelis, ao fundo. A começar atrasado por falta de público (já que fora do palco principal o recinto se tinha transformado num deserto), a cantora norte-americana entregou-se totalmente à pequena plateia que entretanto se tinha juntado. Quem não conhecia, não se arrependeu. Um espectáculo animado, com música pra todos os gostos e ancas. Uma alternativa bem interessante, para os menos interessados no trabalho mais recente dos macacos.
Apesar de tudo não foram os Arctic Monkeys a fechar o palco principal. A tarefa coube a Joe Cocker e à sua fantástica cover de “With a Little Help From My Friends” que deu um vislumbre de Woodstock ao primeiro dia de Alive. Faltou a lama.
Deste palco Heineken, destaque também para os Elbow. Tocaram à mesma hora que os Interpol, não tiveram muito público à frente, mas quem lá estava, estava mesmo. A turma de Guy Garvey vem de Manchester, mas mostra que nem tudo o que vem de lá é ‘mad’. Ritmos quase lentos, serpenteantes, que levam o seu tempo a entrar no ouvido, mas uma vez entrando, descem pelas veias e fazem os corpos abanar, paulatinamente. Os Elbow não são exuberantes, como a maior parte das bandas que tocaram hoje, mas não precisam de exuberância, a música chega pelos ouvidos. E pouca gente havia, neste concerto, a alimentar as redes sociais com selfies.
De saída, ainda deu para ver Manuel Fúria, com os seus Náufragos, a nadar no meio do público. Sim, mesmo num singelo coreto dá para fazer crowdsurf.
Textos: Frederico Batista, Francisco Marujo||Fotos: Diogo Lopes, Francisco Fidalgo
Começou o primeiro festival verdadeiramente de Verão. E começou mesmo mal este texto.O pior é que depois continuou…e ainda falta acabar