Canção do dia

“Quatro Quadras Soltas” – Sérgio Godinho

Há canções (tal como pessoas) que nos caem de imediato no goto. Que nos fazem querer ir de imediato comprar um disco e ouvir esse mesmo tema uma, outra e outra vez. “Quatro Quadras Soltas” é uma dessas cantigas. A orquestração inebriante é da responsabilidade de Luís Caldeira que imprimiu, junto da melodia de matriz tradicional portuguesa, laivos instrumentais do jazz de Nova Orleães e toques de um trombone saltimbanco que reforça a bonomia desta canção de 1979, editada com o disco Campolide.

Mas o que torna esta música ainda mais icónica é a presença de três convidados que envergonham qualquer supergrupo que alguma vez houve, há ou haverá: o senhor Adriano Correia de Oliveira (muitas vezes esquecido), o senhor Zeca Afonso (o melhor de todos) e Fausto (o príncipe da tradição). Cada qual com direito à sua quadra, cada qual com a sua entidade e cada qual a mostrar aquilo que melhor faz(ia): deslumbrar.

Sobre a letra dois destaques: a quadra do senhor Zeca Afonso que nos remete para a sua canção “Eu Vou Ser Como a Toupeira”, em que a hidra é substituída pela cobra com sede, e a reivindicação “Ó-i-ó-ai, nós queremos é justiça/ Ó-i-ó-ai, e dinheiro para o bife”, ordens indispensáveis a uma sociedade perfeita que nem o 25 de Abril conseguiu trazer a Portugal.

Por fim, destacar a ausência do grande, o enorme, aquele que mais falta me faz: o meu querido José Mário Branco. Mas a verdade é que este senhor teve a oportunidade de participar na canção muitos anos mais tarde, quando se reuniram os Três Cantos e a constelação de astros ficou verdadeiramente completa.

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