A multidão tinha sede de NOS Alive – talvez por isso, às 17:00 de uma quinta-feira eram já muitos os milhares de festivaleiros que receberam as primeiras notas da edição de 2018 do certame.
O NOS Alive 2018 abriu com sotaque do país vizinho. No Palco Sagres, os Vermú tiveram honras de abertura. A banda é composta por cinco elementos que decidiram juntar-se depois de todos terem passado por outros projetos musicais. O que fazem agora é um rock trajado de ritmos e composições de âmbito mais popular e tradicional, sem que isso, no entanto se note assim tanto. O som, talvez por ser a primeira apresentação do dia, precisava de afinação. A banda de Albacete cumpriu o ingrato papel de tocar para quem não os desejava verdadeiramente ouvir. Mas é a vida, e assim como acontece com todas as vidas, há que seguir em frente. Foi o que fizemos.

Ainda no mesmo palco, um pouco antes das 18 horas, Juana Molina iniciou o seu indie-rock à moda argentina. Rock bem feito, boas melodias, bom concerto desta estreante em terras lusas. Molina já tem algum lastro no seu país natal, ela que, curiosamente, começou a sua carreira como atriz. A música resgatou-a e tem-se saído bem. Pouco ou nada conhecida entre nós, a verdade é que quem a ouviu terá gostado. Os seus sete discos já lançados dão-lhe margem de manobra mais do que suficiente para um concerto equilibrado, mas também muito à flor da pele. Bons temas, como “Cara de Espejo”, “Eras” ou “Un día”. No que faz não parece haver artifícios, gestos postiços, e por isso cativa pela sinceridade. Alguma eletrónica confere-lhe maior contemporaneidade e reforça o impacto em palco. Boa prestação, facto que lhe foi rendendo palmas cada vez mais entusiásticas. Também nós lhe batemos.
Um pouco mais ao lado, a brasileira Bibiana Petek mostrava os trunfos que o sul do equador sempre tem. Canções sobre “gente que canta e que chora”, bem ao gosto de alguma da boa MPB. Um toque de samba e um certo jeito roqueiro atestam o seu bilhete de identidade musical. Apresentou-nos algumas das canções do seu álbum “Dengo” e tudo foi agradável, divertido, boa onda, simpatia. É a soma de todas estas coisas, Bibiana Petek.

A seguir fomos espreitar a francesinha Jain. Clima de festa e pulos desde o início. Sons dançantes, meio africanos com eletrónica qb, foi a primeira enchente do dia no Palco Sagres. “Are you ready to dance?” A pronta resposta afirmativa deu o mote ao resto do concerto. Muita energia, talvez demasiada para quem se preparava para ver o tio Ferry quinze minutos depois. Metemo-nos a caminho, portanto, deixando para trás um rasto de som que nos ficou colado aos ouvidos.
A idade pode ser uma chatice, mas Bryan Ferry parece ter encontrado o antídoto para lhe resistir. Apesar de sabermos que a relevância artística do músico inglês terá ficado um pouco refém dos tempos dos Roxy Music, também não deixa de ser verdade que Ferry tem sabido defender-se bem. A elegância musical mantém-se e quem tem temas para apresentar como “Don’t Stop The Dance”, “Slave to Love”, “Let’s Stick Together” ou “Avalon” poderá sempre confiar no seu repertório. A imagem de marca também permanece inalterada. Camisa branca e casaco escuro, sempre. Continua o cantor de charme que, na verdade, sempre foi, mesmo quando “escondido” por trás do glam-arty-pop-rock dos Roxy Music. Concerto competente, quando a noite ia dando os primeiros sinais de se instalar.

A carreira dos Nine Inch Nails vai longa, mas parece refrescar-se em 2018: há novo disco na forja e ao vivo há energia, agressividade (no bom sentido) e garra. Trent Reznor é um ícone rock, e prova disso são as muitas dezenas de t-shirts do seu grupo avistadas nos festivaleiros. Em Algés, ninguém saiu defraudado: houve muitos clássicos (“March of the Pigs” foi disparado logo nos primeiros minutos), uma banda em boa forma, e um concerto vivo, dinâmico, que devia ter decorrido noite dentro e não no lusco-fusco. Voltem sempre.
O que dizer dos Snow Patrol, que se seguiram no palco NOS? Há boas canções no grupo, há fãs na plateia, mas carisma e noção de espetáculo é coisa que não mora por estes lados. Tiro relativamente ao lado que nos desvia para os últimos momentos dos Friendly Fires, que, esses sim, fazem a festa num palco lá ao fundo: grande banda ao vivo.

Dos Arctic Monkeys muito há a dizer e muito já se disse sobre o novo Tranquility Base Hotel and Casino. O grupo cresceu, Alex Turner é agora mais um crooner do que um rocker, mas ao vivo confirmamos as impressões do disco: há elegância, certo, boas canções, evidente, mas a garra, a chama, o repentismo e o desprendimento rock dos rapazes de Sheffield parece ter sido colocado de lado. Num dos menos inspirados concertos de sempre em Portugal, nem boa parte dos clássicos pareceram tocados com a intensidade que sempre conhecemos – “I Bet You Look Good on the Dancefloor” foi disso exemplo. Podem ser dores de crescimento, mas tudo aponta, parece-nos, para um crescimento fora de tempo. Talvez seja um concerto que resulte melhor em sala, mas no NOS Alive faltou chama a estes macacos que nos habituámos a valorizar pela tenacidade. Terão sempre o nosso benefício da dúvida, contudo.
Texto: Carlos Vila Maior Lopes e Pedro Primo Figueiredo || Fotografia: Inês Silva e fotos oficiais NOS ALIVE devidamente creditadas