Foi com Norah Jones que o EDP Cool Jazz chegou ao fim. Jeito mais cool para fechar o mês seria quase impossível.
No último dia do EDP Cool Jazz de 2018, a lotação esgotou. A menina de boas famílias musicais fez valer os seus encantos, e o Hipódromo Manuel Possolo teve casa cheia. Para o ano haverá mais e no mesmo local. A espera só demorará onze meses. Coisa pouca. Mas ontem, Benjamim e Norah Jones fecharam as contas do Festival mais “cool do verão”, e o que se pode dizer é que o mês de julho terminou bem. Muito bem mesmo. Muitos concertos ficarão na memória de quem os viu e ouviu, que foi o nosso caso, uma vez mais. Mas vamos aos pormenores dos espetáculos de ontem, então.
O nosso bom Benjamim começou a dar-nos música com o seu “Auto Rádio” já muito bem antenado e conhecido. Sintonizado no seu estilo particular de rock (onde o formato da canção portuguesa de contornos mais tradicionais tem, por vezes, lugar cativo), Benjamim começou devagarinho, mais comedido, mais cool do que costuma ser normal. Talvez as duas vozes femininas em palco tenham potenciado essa nossa impressão. Foi assim que arrancou, de “Volkswagen”. Depois de “dançar com os tubarões”, já em estilo mais acelerado, fez-se melhor à estrada e foi aquecendo um pouco mais a estrelada e fria noite de Cascais. Em seguida, a quase acústica “O Sangue”, curta, bonita e incisiva. Depois do “sanguíneo” tema, a viagem prosseguiu até ao “Tarrafal”, mas antes, perante alguma apatia do público, a nota de humor da boca de Benjamim, ao dizer “Está tudo à espera da Norah Jones, não é? Agora é que vos animei”. A verdade é que Benjamim bem se esforçou mas poucos seguiram, cantando, “Os Teus Passos” como o músico havia pedido. Uma pena. Benjamim é um dos grandes da atual música portuguesa e não merecia tal desânimo da parte das plateias à sua frente. Terminou com “Disparar” e “Terra Firme”, canção que dedicou a todos aqueles “que todos os dias querem entrar de barco na Europa, e que nós mandamos embora.” Para quem, como nós, gosta de Benjamim, ficou a certeza de termos assistido a um bom concerto. Para todos os outros, terá sido apenas mais um.
Com alguns minutos de atraso, começou o espetáculo de Norah Jones. O público, minutos antes, de impaciência, ia gritando “Bora Jones” com alguma graça. Sentada ao piano, atacou com a densa “My Heart Is Full”. O tema criou um ambiente de quase total silêncio e deu o mote para as seguintes canções, todas elas de caráter mais profundo e intimista, como são os casos de “Nightingale” e de “Out On The Road”, do seu álbum Little Broken Hearts. Talvez pela noite que permanecia fresca, Norah Jones atacou a “velhinha” “Cold Cold Heart”, tema do seu álbum de estreia. A voz melosa, melodiosa, o piano insinuante e o contrabaixo firme destacaram-se do princípio ao fim. A bonita filha de Ravi Shankar tem, de facto, encantos especiais. A forma como sentidamente cantou “After The Fall” foi soberba, assim como também são superlativos os músicos que a acampanham, organista, baterista e contrabaixista, que também por vezes se agarrou à guitarra.
Todo o concerto, como seria de esperar, foi muito intimista e estamos seguros que resultaria ainda melhor numa sala de médias dimensões. No entanto, mesmo no vasto auditório natural de Hipódromo Manuel Possolo, canções como “It Was You” resultaram primorosamente. Pena alguma falta de diálogo com o público. Norah Jones pouco mais disse do que “obrigada” durante todo o concerto. Mas refira-se que a pronúncia é imaculada!
A conhecidíssima “Sunrise” não poderia faltar e ao nosso redor alguns rostos sonhadores, de olhos fechados e cabeça inclinada ao céu, iam murmurando “Sunrise, sunrise / Looks like mornin’ in your eyes”. Depois desse momento quase onírico, a versão de “Black” do Dj e músico Danger Mouse terá apanhado muita gente de surpresa, mas já não a belíssima “Come Away With Me”, cantada de forma arrebatadora: “So all I ask is for you / To come away with me in the night / Come away with me”. E nós fomos, naturalmente.
Quase no fim, a bonita “Carry On”, do recente Day Breaks. Quando voltou para o encore, “I’ve Got To See You Again” foi a primeira das duas escolhidas. A última teve de ser a inevitável “Don’t Know Why” para satisfação suprema de todos. E assim terminou a última noite do EDP Cool Jazz deste ano. Foram bons os artistas, bons e diversos os concertos. Para o ano há mais. É bom ter em conta que 2019 está já ao virar da esquina.