Os Nation of Language mostraram porque é que são uma das bandas mais promissoras dos últimos anos, com um concerto consistente, no qual não parámos de dançar.
Foi uma sala cheia e ansiosa que, no LAV, recebeu novamente em Portugal os Nation of Language. Com um novo disco, Dance Called Memory, na bagagem, Lisboa era a última paragem de uma tour longa da banda norte-americana e a expectativa era elevada, depois de um concerto promissor em junho, no Meo Kalorama.
Alguns minutos depois da hora marcada o trio subiu ao palco e percebeu-se de imediato que a rodagem a tocar ao vivo trazia uma banda mais confiante, mais solta e até tecnicamente melhor, com segurança e naturalidade. Começaram de imediato por simpaticamente cumprimentar o público e atacaram “A New Goodbye”, do disco anterior (Strange Disciple), arrancando aplausos de entusiasmo e reconhecimento, começando imediatamente a dançar.
Logo de início notou-se que a banda vinha decidida a conquistar a sala. A onda eletrónica bem-disposta, carregada de energia, criou um ambiente que se adensou conforme o concerto ia avançando. O vocalista, Richard Devaney movia-se com naturalidade pelo palco, como quem já sabe que está entre amigos. A plateia devolvia-lhe essa confiança, reconhecendo cada som, cada frase, cada gesto.
Muito cedo no alinhamento surge “Rush & Fever”, excelente faixa do primeiro álbum Introduction, Presence, de 2020, tendo arrancado, infelizmente, poucas reações de quem lá se encontrava, talvez porque a sala ainda procurava o seu ritmo, ou talvez porque o cansaço do fim da digressão se sentia também no ar. Houve momentos de conversa: um agradecimento sentido à banda de abertura, algum humor ao falarem da tour, com risos de parte a parte.
A energia voltou quando atacaram “September Again”, logo seguido de “This Fractured Mind”, que trouxe uma explosão de emoção, braços no ar, saltos e dança do público, subitamente acordado. Com “Silhouette” e a muito dançável “Wounds of Love” recuperaram completamente a sala.
O público, com muitos millennials, mostrou-se atento e respeitador, reagindo conforme as faixas iam surgindo, alguns tirando o telemóvel para filmar alguns segundos e logo o guardar mas, na sua maioria, simplesmente dançaram, cantaram e acompanharam os movimentos da banda. E foi bonito conseguir assistir a um concerto sem ser pelo ecrã do telemóvel da pessoa que estava à nossa frente. Onde nos encontrávamos notámos que, ao contrário do que temos sentido recentemente em concertos, não havia conversas paralelas, havia, sim, um respeito e comunhão com os músicos que estavam a tocar.
A honestidade da performance, sem artifícios, fez a diferença. O cansaço, contudo, estava presente, como admitiu o baixista, Alex MacKay: “We’re so f****** tired but you guys give us energy, so thank you”, sendo recebido com risos e aplausos.
Novo momento alto em “Across that fine Line”, seguido de “Inept Apollo”, fechando com “In your Head”. Os temas do novo disco funcionaram particularmente bem ao vivo, talvez até melhor do que em estúdio, e foram recebidos com entusiasmo.
Quando saíram pela primeira vez, ninguém arredou pé. A banda não se fez esperar, voltando rapidamente para um explosivo encore. “On Division st.” transformou a plateia numa autêntica pista de dança — gritos, saltos, gente a vibrar de ponta a ponta. Depois, “Weak in Your Light”, e finalmente “The Wall & I”, com a sua linha de baixo à Peter Hook (New Order), arrancou saltos e exclamações de entusiasmo de todos, juntando banda e público num só corpo sonoro, num final cheio de festa. Despediram-se com um “até para o ano” (tocam no Primavera Sound, no Porto), naquilo que parecia o adeus final. Perante o entusiasmo, ainda voltaram novamente, para se despedirem, finalmente, com “Automobile”.
Saíram, por fim, sorrindo eles e sorrindo nós, felizes que estávamos todos com a diversão e entrega que os Nation of Language nos ofereceram, presenteando-nos com um concerto consistente e emotivo. Foi uma noite cheia, sincera, dançável e emotiva, daquelas que ficam. A banda está num ponto alto e quem dançou no Lav esta sexta-feira assistiu a um bom concerto de um trio muito promissor.
Fotografias: António Vouga
















