Importa relembrar, repensar, reouvir os Minutemen, banda seminal de tudo o que de música alternativa se fez desde então.
Poucas bandas se podem gabar de terem seguido as regras da estética punk tão à letra como os Minutemen o fizeram. Editora independente – check. Músicas de menos de 2 minutos – check. Letras anti-establishment – check. Percorrer o país numa van para minimizar custos – check. A questão é que por alturas de 1984 já o punk tinha ficado lá para trás, evoluindo em diferentes direções, portanto isto já teve de ser “encaixado” sob um rótulo diferente. O que todos sabemos sobre rótulos é que os mesmos, além de pouco servirem, são, em muitos casos, enganadores. Os Minutemen experimentaram tudo o que de estilo musical existe para aí, adicionando ao ethos punk uma dinâmica de free jazz, e tudo coube neste Double Nickels By the Dime, um álbum duplo com 45 músicas e 80 minutos de duração.
Mas nada como um bom rótulo, e a banda californiana, nascida em 1980 decidiu que o seu seria “we jam econo”, mostrando que a eles o que lhes importava era serem directos e concisos, sem floreados. Ideias sonoras tinham muitas, portanto porquê perder tempo só com uma quando há mais três ou quatro a aparecer? Despachemos esta em minuto e meio e passemos à próxima. O resultado foi simples – um frenesim de som, uma balbúrdia de ritmos, uma apoteose de energia.
Apadrinhados por uns tais de Black Flag, os Minutemen foram utilizando a exposição oferecida nas primeiras partes dos concertos para se darem a conhecer, para fazerem também ao vivo as suas experiências, mas nem sempre foram bem recebidos pelo público, que simplesmente não os compreendia, não sabia o que fazer deles. Esta dificuldade é, ainda hoje, a única explicação para não terem tido o devido reconhecimento generalizado que Watt, Hurley, Boon e Tonche mereciam. Porque nos meandros do rock alternativo são vistos como seminais e inventivos como poucos, sempre foram apologistas da liberdade de experimentação ao revés de se fecharem num casulo, num estilo ou género e com isso abriram os horizontes para muitas outras bandas que vieram depois, casos de Red Hot Chilli Peppers, Sublime, Dinosaur Jr.
Entre 45 músicas, como conseguem imaginar, é difícil destacar esta ou aquela, só com uma ou duas não dá para perceber a amplitude de espectro que os Minutemen incutiram no álbum, e a curta duração ajuda a ir descobrindo – quando damos por nós ainda só passaram 30 minutos mas já ouvimos 15 músicas e já se falou de Michael Jackson, de Reagan, de James Joyce, de Dave Brubeck, do Vietname, da Alemanha de Leste. E o baixo de Watt já vos ficou no ouvido de forma indeleável.
Double Nickels on the Dime é tanto um disco punk como arty, pela experimentação constante, letras enxertadas à força, referências políticas, culturais e sociais que não se apanham à primeira, antes refundidas e rebuscadas, mas o sacana do disco funciona maravilhosamente bem como um todo. Descubram ou redescubram, valerá sempre a pena.