Guitarras líquidas e baixos que ressoam nos ouvidos. Isto é o Given to the Wild em poucas palavras. O terceiro disco dos Maccabees, apresentado ao público há quase dois anos granjeou de críticas maioritariamente favoráveis, e representa, no percurso dos britânicos, uma evolução significativa. Mais uma vez na carreira destes jovens, são tecidas comparações aos canadianos Arcade Fire (que recentemente editaram o quarto álbum de estúdio, Reflektor), não tanto devido à sonoridade, mas ao nível de fineza do disco. Como The Suburbs, o terceiro disco dos canadianos, representa um desenvolvimento na qualidade do som da banda. Em Given to the Wild os Maccabees despojam-se das guitarradas rápidas e alegres tão características do álbum anterior, Wall of Arms, substituindo-as por reverbs de seda e instrumentais que repousam na delicadeza dos teclados e das guitarras dos irmãos Hugo e Felix White.
A banda, liderada por Orlando Weeks, estreou-se em 2007 com o aclamado Colour It In, seguindo-se o acima referido disco de 2009, Wall of Arms. À semelhança dos conterrâneos Horrors, que iniciaram o seu percurso na mesma altura dos Maccabees, e estrearam o segundo disco no mesmo ano, lançam o terceiro numa data também próxima.
Afastando-nos das semelhanças de datas, debrucemo-nos sobre o pico de grandeza e excelência que ambas as bandas alcançaram com os terceiros registos. A base de fãs dos dois conjuntos tem crescido incomensuravelmente ao longo dos anos, e apesar de eu ser um pouco demasiado suspeita para falar sobre os Horrors ou os Maccabees, pois sou uma fã dedicadíssima de ambas, creio que os mais recentes trabalhos demonstram um crescimento, mais visível no caso no caso dos Maccabees, do que os Horrors que se têm mantido num registo semelhante desde o Primary Colours, editado em 2009. Os Maccabees cresceram, e não perderam aquilo de que são feitos.
Sento-me e escrevo com o disco a tocar, e a capa exposta à minha frente. Nesta vemos uma rocha solitária, que se encontra rodeada por um fogo. Será isto simbólico? Poderá representar uma banda que, cansada dos registos anteriores, se aventura num novo campo, e defronta novas possibilidades e aventuras? Gosto de pensar que poderia assim ser. Mas tratemos do conteúdo.
Em Given to the Wild não penso que nenhuma faixa se assemelhe ao registo anterior. Talvez a mais mexida e dançável do disco, “Went Away”, na sua frenética calma é a que mais se aproxima da essência inicial dos Maccabees. No entanto, é em temas como “Forever I’ve Known” que encontramos uma beleza quase de cristal tão característica desta via mais electrónica e menos artesanal que a banda seguiu. Na música referida, a voz de Orlando Weeks ecoa sobre um instrumental doce e suave, que vai crescendo com a voz do vocalista que suavemente confessa “Couldn’t you just lie? I’m a child to your voice” até se tornar insuportável, explodindo numa raiva controlada de guitarras a guerrilhar com teclados e uma bateria furiosa. Outros temas absolutamente geniais do disco centram-se na belíssima “Heave”, que gentilmente nos guia até ao ponto sem retorno, onde nos é perguntado “Are we so different?”; ou naquela que será a melhor colaboração dos Maccabees até aos dias de hoje, a subtil e sinuosa “Unknow”, que conta com a participação de Caroline Polachek, dos Alpines, que concede a sua voz pura e cristalina à faixa em questão. Mais um ponto alto do disco será aquela que serviu de single inicial, “Pelican” que transpira uma alegria que disfarça o carácter mais terreno das letras, que giram sobretudo em redor do tema do ciclo da vida. Também a singela “Ayla” ou a nostálgica “Grew Up at Midnight” são de realçar, pois são temas de uma aura delicada, muitíssimo bem construídos.
Given to the Wild é a afirmação dos Maccabees como uma das maiores promessas do rock alternativo inglês, que não deixa de nos surpreender. É também a prova da versatilidade da banda, que não tem medo de experimentar novos territórios, como este mais electrónico e polido. Os Maccabees saltaram para o fogo e não se queimaram; purificaram-se.