Leo Middea deu 10 concertos em 10 dias por várias cidades europeias e acabou a sua intensa tour com pompa em Lisboa, cidade que escolheu como casa há 7 anos.
O Carnaval, a festa pagã da folia e do excesso, celebra-se por estes dias um pouco por todo o país e pelo mundo. Lisboa não é exceção e, apesar de a meteorologia estar bem mais incerta e fria do que aquela que se faz sentir no Rio de Janeiro, não faltam blocos e desfiles de Carnaval que trazem algum calor a quem não dispensa assinalar esta ocasião. Quem tenha passado pela zona da Graça no sábado, dia 10, não terá, com certeza, ficado indiferente à festa cor-de-rosa da Columbina Clandestina, mas não foi aquele o único local da cidade capaz de nos transportar para o Carnaval do Rio. Ao início da noite, descendo ao Cais do Sodré e entrando no Musicbox, ficava claro que o bloco carnavalesco continuava ali, ao som de teclados jazzísticos e de um violão quente embalados por uma batida de samba. Era o concerto de Leo Middea.
Descalço e com glitter na cara, Leo Middea subiu ao palco bem-disposto e sorridente, mostrando-se pouco intimidado com a sala esgotada diante de si. Explicou-nos que tinha pensado fazer um concerto só “Voz e Violão”, mais calmo, mas que se sentiu na obrigação de trazer uma banda perante a adesão ao concerto. Acompanhado por um teclista e por um baterista, Leo Middea, abriu o concerto tal como abre o último disco, Gente, de 2023, com “Carnaval Breve – Ato 1”, curta e a capella e a introdução perfeita para a festa que se seguiria.
O público estava animado, ainda com o balanço do Carnaval, e ansioso para ver o artista de Taquara, Rio de Janeiro, que há 7 anos fez de Lisboa a sua casa. Prova disso foi que bastaram as primeiras notas de “Do Subúrbio” para pôr toda a plateia a dançar e a acompanhar o refrão em coro. Sem deixar cair a energia do público, Leo Middea pediu mais e mais alto, pedido a que todos acedemos com prazer. “Hello, Goodbye”, “Que Sorte” e “Bairro da Graça”, a primeira de várias canções que escreveu com referências a Lisboa, preencheram a primeira parte do concerto com cor e movimento, todas esplendidamente acompanhadas pelos músicos em palco.
Depois de uma bonita versão de “Filhos de Gandhi”, canção de Gilberto Gil, Leo Middea foi deixado sozinho em palco, continuando, ainda assim, muito confortável no seu papel de mestre de cerimónias daquela festa de Carnaval dentro de portas. Seguiram-se cinco canções em registo “Voz e Violão” que foram captadas para um disco ao vivo que Leo Middea tem estado a gravar na sua tour, e que incluirá uma canção gravada em cada uma das cidades por onde passou. “Banhos de Mar” acalmou a dança e soube aos pores do sol de verão dos quais já começamos a ter saudades. Entre histórias de relações e de amizades e de como estas inspiraram canções, Leo continuou a mostrar a sua obra neste registo mais calmo. “Olimpo ou Razão”, “Sorrindo Pra Saudade” e “Doce Mistério”, a canção com que vai participar no Festival da Canção 2024, cumpriram o seu propósito, embora não tenham conseguido despoletar no público a mesma resposta emocionada que a primeira parte do concerto atingiu. O ponto alto deste momento acústico foi “Romances”, que trouxe ao palco Janeiro, amigo e colaborador de Leo Middea desde que este chegou a Lisboa, que animou a plateia com o seu entusiasmo contagiante.
O regresso da banda ao palco ditou o regresso da festa mais forte, comprovando que as canções de Leo beneficiam do acompanhamento para atingirem todo o seu potencial. O funk de “Freguesia de Arroios” soou ótimo, mais rápido e intenso que a versão em disco, falando-nos das moças (ou das filles, na versão em francês que fez para tocar em Bruxelas) “meio hippie, meio chique, underground” do eixo Almirante Reis. “Esse Jazz Tocar” antecedeu a segunda cover da noite, “Emoriô”, de João Donato e a lindíssima “Borboleta Efeito”, gravada em conjunto com Mallu Magalhães (que infelizmente não apareceu para fazer uma perninha) encaminhou-nos para a última (seria?) canção da noite, “Lisbon, Lisbon”, muito apropriada. Como “encore é coisa de famosos” e Leo Middea parece saber onde quer estar (para sê-lo basta parecê-lo?), tivemos direito a uma canção extra depois de a banda sair e voltar a subir ao palco, até porque ainda falta ouvir uma das melhores canções de Gente, a excelente “Se Eu Disser Que Quero Um Beijo”.
Do início singelo, só com a melodia do refrão tocada no teclado, ao final apoteótico com Leo e Janeiro a dançarem no meio do público, o Musicbox não deixou de cantar e dançar, celebrando o carnaval e as canções contagiantes que acabávamos de ouvir. A música de Leo Middea floresce quando apresentada ao vivo, beneficiando dos seus refrões cheios de ritmo e fáceis de memorizar e repetir. Foi um concerto onde foi impossível estar quieto e onde Leo Middea soube muito bem beber da energia e da animação do público, revelando-se um excelente performer. Este Carnaval pode ter sido breve, mas foi proveitoso.
Fotografias por Connor Wilkinson













