Os Lamb andam na estrada a assinalar o 21.º aniversário da sua estreia em álbum – o disco homónimo de 1996 soa datado, a banda é mais amor do passado que experiência de presente, mas ninguém se arrependeu de apanhar o retropolitano na noite de terça-feira.
“Lusty”, “God Bless” e “Cotton Wool” logo a abrir: não havia enganos, a noite era para celebrar Lamb, obra de 1996 que permanece imaculada embora o envelhecimento tenha feito as suas marcas. O trip-hop, drum and bass e acid jazz são hoje fenómenos residuais, corpos sonoros de vitalidade discutível – há 20 anos, contudo, quem sabia da coisa, era ponta-de-lança do bom gosto. E os Lamb foram, pelo menos até ao terceiro álbum de originais, vanguardistas, criativos e pertinentes.
A relação do duo com Portugal foi sempre de carinho e apreço mútuo: recordamos uma atuação mítica em Paredes de Coura, onde partilharam palco com os Suede. Estávamos em 1999, Fear of Fours, segundo tomo, estava fresco – ainda não tinha havido a derivação para a pop mais açucarada e o momento era de glória.
Com menos brilho do que à época, os Lamb de 2017 são uma banda numa encruzilhada. Se os mais recentes álbuns de originais têm passado despercebidos, a celebração da obra inicial mereceu um Coliseu dos Recreios longe de cheio, certo, mas ávido de recordar uma juventude talvez precocemente perdida. As canções dos Lamb evocam memórias, sensações, emoções. Continuam intensas, bem tocadas, elegantes, Lou Rhodes continua uma vocalista luminosa, Andy Barlow o chefe absoluto de tudo isto.
Ouvir Lamb 21 anos depois consiste num exercício de memória. Serve para nos recordarmos de pessoas, noites, momentos, para nos lembrarmos que demasiadas vezes nos esquecemos de quão bons eram os Lamb – quer na faceta mais implosiva e extrovertida, quer nos momentos de sufoco (“Feela” foi maravilhosa).
“Angelica”, instrumental tremendo, fez a ponte entre os temas da estreia e passagens por outros discos. O encore trouxe apenas um tema, o inevitável “Gabriel”, canção que não era assim tão má mas estava longe de ser boa o suficiente para a termos ouvido tantas vezes. O concerto dos Lamb em Lisboa desta terça-feira foi bonito e elegante, porque com canções tão bonitas e elegantes como as do começo de carreira do duo, difícil seria não oferecer algum brilhantismo aos espetadores. Tudo soa demasiado a material lá de trás, a viagens sonoras algo datadas, mas nenhum mal vem ao mundo por, durante hora e meia, voltarmos a um passado onde fomos estupidamente felizes mas também, certamente, angustiosamente miseráveis. E os Lamb foram parte fundamental da banda sonora dessa parte das nossas vidas.
Fotografias: Inês Silva