Houve espaço para encontro de opostos no LAV, com o trio californiano L.A. Witch a assegurar uma aura densa e sensual.
O processo de individuação implica conhecer a totalidade da psique, olhar de frente com a curiosidade de quem a quer ver realmente, desafiá-la, aceitando a dualidade entre luz e sombra, e o equilíbrio delicado entre a sanidade e a arte.
As L.A. Witch são um trio californiano feminino, composto por Sade Sanchez (guitarra/voz), Irita Pai (baixo) e Ellie English (bateria). Trazem-nos rock psicadélico, inspiração garage e punk, com um groove ligeiramente poético, até um pouco místico, pleno no encontro de sentimentos extremos e dilemas existenciais, de onde sobressai a criação de espaço para que os opostos se possam encontrar, como amantes que florescem na penumbra distorcida das guitarras e a voz hipnótica e constante de Sade.
A presença das Witch de L.A. é um gótico soft, sensual, emana uma pseudo quietude afirmativa de que o rock não padece de falecimento, só de transformação. Já haviam estado em Portugal em 2018, e algumas tours europeias depois, voltam a tentar comunhão com o público presente. Não estou certa de terem conseguido, mas os fãs serão fãs.
Em Abril deste ano saiu DOGGOD, apresentado integralmente na sala do LAV juntamente com algumas canções dos 2 álbuns anteriores: Play With Fire, de 2020 e o de estreia L.A. Witch, de 2017. Os temas “Get Lost” (imediatamente antes do encore), “SOS” e “Starred” (no encore) com que terminaram o concerto, são curiosamente os temas de fecho de cada um dos seus 3 discos. Não consegui confirmar se é coincidência o facto de os 3 terem 9 músicas e cerca de 30 minutos cada, mas leiam também o artigo do Tiago Crispim a respeito do seu mais recente álbum.
No seu trabalho, e também ao vivo, a banda assegura consistência na dualidade. Viajar ao próprio íntimo, sem medo da sombra que já conhecem, que acolhem, e que projectam, de mão dada com a luz.
Fotografias: Rui Gato














