São Jorge, álbum de estreia do fadista lisboeta Jonas, incorpora o fado tradicional e as temáticas contemporâneas, sendo um disco essencial na discografia da nova geração do fado.
Jonas editou em 2021 o seu álbum de estreia, São Jorge. Para além de fadista, o artista tem também um passado de coreógrafo, bailarino e performer, tendo frequentado o Chapitô e até uma escola de circo em Londres, onde percebeu que o fado era a sua praia. O projeto “Bate Fado”, juntamente com Lander, que se baseia na recuperação do ato de bater, sapatear o Fado, foi um dos projetos onde participou. Já este ano, Jonas, fez parte do Festival da Canção onde apresentou a canção “Pontas Soltas”, com uma performance a fazer lembrar o espetáculo “Bate Fado”.
Em relação ao álbum, que conta com a produção e mentoria de Jorge Fernando, um dos nomes mais importantes do Fado, é um disco pensado ao pormenor. Desde a imagem da capa, onde Jonas aparece como uma figura religiosa, até às suas canções, claro.
As canções, todas escritas por Jonas, desdobram-se em várias temáticas, sendo que a principal é uma Lisboa contemporânea. Não faltam as personagens da capital: o moço que angaria clientes à porta da casa de fados, “o cego que faz ritmos a pedir esmola” no metro, e até se recorda o Homem do Adeus que no Saldanha acenava a quem passava de carro. Mas também ouvimos falar sobre os males do trabalhador independente no fado Insegurança Social, como também da necessidade de ruptura com a vida na canção “Fui comprar tabaco”.
É certo que, numa altura em que podemos afirmar que o fado perdeu finalmente a conotação negativa que teve durante muitos anos, e já podemos considerar a emergência de uma segunda nova geração do fado, a mais-valia de Jonas é ter toda a alma e musicalidade de um fadista tradicional mas que traz à tona cenários atuais que espero que aproxime mais ainda o fado de quem habitualmente olha para ele como um estilo musical triste e envelhecido.