Camadas de sintetizadores ondulantes e melodias luminosas, enriquecidas com guitarras translúcidas, elevam as canções de Johnny Dynamite a uma dimensão um tudo nada onírica, lembrando que o melhor do synth-pop nos faz querer viver uma boa paixão.
Um bom começo de relação. Daqueles que nos abre o apetite e voracidade pelo desconhecido. Lançado em 2020, na viragem de mais uma década, Johnny Dynamite, baterista do projecto goth-punk Whiner, resolve finalmente avançar em nome próprio. E como se Dynamite não chegasse, convida os Bloodsuckers para compor a sua estreia. Um disco que anda a morder os calcanhares de bandas como Tears for Fears, Talk Talk, e outras tais da fase áurea do synth-pop-rock dos anos 80, que tão bem serviram de inspiração para projectos como M83 ou Thieves Like Us. Heartbroken é um disco singelo, extremamente romântico, que circula ao redor dos assuntos do coração, tal como o próprio nome indica. De melodias certeiras, arranjos sedutores e letras universais, tal como um bom primeiro beijo, Heartbroken enche-nos de curiosidade e azáfama por sabermos mais. Foi o que fiz.
Depois de o ter ouvido repetidamente, vezes sobre vezes, fiquei com a sensação de que o álbum se constrói sobretudo a partir dos dois singles “Walking Poetry” e “Hey Join Me (You’re Not Alone)”. E como o povo costuma dizer, e bem, em casa de ferreiro, espeto de pau. “Hey Join Me” é a única música em que conseguimos ouvir a verdadeira bateria de Johnny Dynamite. O resto é uma drum machine a fazer as vezes da bateria. E se em “Hey Join Me” o lado mais rock de Dynamite sobressai da prateleira, “Walking Poetry” mostra o ângulo mais sintetizado do disco. Prova disso é música “Emit”, uma ode à santificação do sintetizador, que nos remete vagamente para o colosso dos Art of Noise “Moments in Love”. Questionado sobre a origem da ideia para o disco, o vocalista, compositor e em grande parte produtor afirmou ser uma combinação de coisas antigas e material mais recente. Por exemplo, a faixa final do disco, um tema inteiramente acústico, foi gravado originalmente em 2016. “Duet”, data de 2017. O restante material, por força da coincidência, perfez uma coleção de músicas que se justapõem num propósito comum- o amor.
Lançado pela Broken Dreams Club, uma espécie de grémio sediado em Brooklyn para artistas que não desejam fazer parte de uma editora convencional, e de cariz completamente DIY, o primeiro longa duração de Johnny Dynamite e os seus Bloodsuckers, apesar de não parecer, torna-se gradualmente num álbum viciante, talvez pela sua imensa transparência e distinção. Passou despercebido, mas ainda vai a tempo de se transformar numa referência menos óbvia dos grandes discos pop dos recentes anos 20. Por aqui, continua a rodar de modo incessante, bem próximo do coração.