Em 2016, a Jibóia já dispensa apresentações. Não é o fato de Carnaval de Óscar Silva mas sim o seu alter ego de todos os dias. Em 2013 e 2014, os EPs Jibóia e Badlav tinham-nos deixado sedentos de mais, bem lá em cima na estratosfera – onde ficámos à espera a dançar. Dois anos foi o que esperámos e Masala o que recebemos.
O menu de Masala começa com a gigante “Ankara”, que parece concentrar em si romanos, bizantinos e otomanos, com uma mistura ácida de ritmos tropicais e a guitarra imperial a que Óscar Silva já nos habituou – aqui sentimos-lhe mais os ecos e as superfícies de uma mesquita do tamanho de um planeta. Rapaz do mundo, leva-nos para o Brasil de seguida, mais concretamente para “São Paulo”. Sambamos num tango negro e energético até que a Jibóia nos leva para o sítio mais familiar do disco todo, “Lisboa”. Ouvimos os Mouros da cidade antiga na guitarra e a África das ex-colónias na bateria de Ricardo Martins. Em “Marrakech”, Aladino corre pelos telhados de Agrabah de braço dado com o Príncipe da Pérsia numa Sega Mega Drive poeirenta e transcendente, com as alturas inimagináveis da Burj Khalifa e seus companheiros a aparecer-nos no “Dubai”. “London” é abrasiva e espalhafatosa e concentra em si centenas de nacionalidades, origens e credos. “Luanda” tem semba e kuduro para abanar as ancas, acabando “Oslo” por nos dar a estalada final de distorção lenta e sábia.
Pequeno em duração mas gigante em geografia e reverberação, o primeiro álbum de Jibóia é um atlas que reúne em si os mais variados lugares, não perdendo as raízes nem se prendendo demasiado nelas. Ainda assim, Masala deixa-nos saudosos da urgência fervilhante dos dois EPs que lhe antecederam. Sentimos-lhe o tempo e as rugas, percebemos que não podemos ficar pra sempre a dançar numa utopia psicadélica que Jibóia ajudou a construir. Custa perceber que não podemos ser Peter Pan. Mas, tal como Masala agora, faz parte da vida.
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