Na festa de lançamento de Acetate, os Hetta emocionaram-se com a forma calorosa como foram recebidos pelos fãs que encheram e dinamitaram a sala principal da Casa Capitão. E se Prado, Reia Cibele e Cave Story já tinham escaldado a plateia, no fim veio mesmo tudo abaixo.
O muito esperado primeiro longa duração dos Hetta está finalmente cá fora! A montanha pariu um mamute de disco logo nos primeiros passos já parece começar a deixar marcas profundas. Apesar da novidade dos temas, eram já muitas as almas presentes na Casa Capitão a repetir os versos com ainda tanta ou ainda mais força que Alex Domingos. Ao já habitual vendaval de slam Hetta, a pica e a comoção transbordantes na plateia acrescentaram um trânsito caótico no piso formado pelas nossas mãos.
Ainda que em alguns temas mais novos como “Caught Again” o quarteto baixe um pouco as rotações, a intensidade e a urgência mantêm-se, deixando-nos tão vidrados aos diferentes registos e tons da guitarra de João Pires, quanto aos ritmos esquizofrénicos de João Portalegre e Simão Simões, quanto aos backing growls delirantes deste último… e, claro, ao magnetizante Alex.
Espremido entre duas bandas viscerais, o contraste da noite surgiu na apresentação seguinte. Mas apenas um desavisado poderia achar que a actuação dos Cave Story foi calma, ou qualquer outro qualificativo que os colocasse numa categoria de intensidade abaixo do que a noite pedia. Quem já os conhece sabe que a energia regularmente entregue em palco é libertada de forma gradual, mas sempre crescente, a partir do transe provocado pelas repetições das linhas de baixo e bateria e pelas explosões repentinas de guitarra. E isso foi particularmente verdade neste concerto, em que a banda pareceu ter preparado o alinhamento para disputar o mesmo espaço sonoro das restantes formações da noite, entregando até as “baladas” com uma energia latente.
A banda percorreu vários dos seus discos, a começar por “The Town”, do EP homónimo de 2021. O alinhamento dividiu-se, então, em duas partes: a primeira, encarregada de construir e acumular energia com as canções angulares de Wide Wall, Tree Tall (2023), como “Critical Mass”, “Ice Sandwich” e “Absolute Best”; e a segunda, composta pelos temas rápidos e enérgicos de Punk Academics (2018), como “Offered Forms of Escape”, “Some More Bodies” e “Special Diners”. A divisão foi pontuada por covers de “Punks in the Beerlight”, de Silver Jews, e de “12xu”, dos Wire, enquanto canções de Spider Tracks EP (2014) — “Cleaner”, “Buzzard Feed”, “Fantasy Football” e “Hair” — surgiam ao longo de todo o alinhamento.
A Reia Cibele andava desaparecida … há demasiado tempo, sublinhe-se, destaque-se a negrito e coloque-se em maiúsculas! As saudades não eram, de todo, só nossas! A sala encheu o que faltava para os ver, ouvir e acima de tudo, sentir… nas pernas, no pescoço, no lombo, na alma!
Para quem não conhece, fica uma breve tentativa de descrição. A sonoridade da banda resulta da conjugação do virtuosismo discreto nas cordas do Martim, com a bisarma rítmica do Vasco, aditivada pela saturação delirante e dilacerante do baixo de Micas, num pacote sónico embrulhado na candura brutalmente desarmante do gigante Bruno. Para quem não conhece, fica a recomendação para espreitar o homónimo EP de estreia, e definitivamente por os tentar apanhar ao vivo.
Prado é screamo verdinho, feito para bater nos amigos com muito amor e carinho.” É assim que o quinteto se apresenta, e a contar pelo que se passou em palco, a verdade não anda longe! Vai bailando ao sabor do slam, mas nunca se afasta de uma poderosa dupla de vozes femininas (Didi e Mati) e do barulhinho bom que vem a cavalo dos instrumentos afagados com toda a intensidade por Zé, Vouga e Patrício. Uma bela surpresa para continuar a seguir!
Texto de Fernando Chovich e Rui Gato | Fotografias: Rui Gato









































