Gaz Coombes, o antigo vocalista dos óptimos e muitas vezes esquecidos Supergrass, tem andado à procura do seu caminho. Depois de 17 anos ao leme da banda britânica que o levou ao reconhecimento, edita agora Matador, o seu segundo disco a solo.
O que temos aqui, para além do óptimo sentido pop que os Supergrass sempre demonstraram, é uma vontade de fazer um disco mais profundo, com mais dimensões diferentes. Ouvindo alguns dos temas é fácil colocar a etiqueta de “Gaz a querer ser os Radiohead”, ou pelo menos a explorar caminhos que foram trilhados por OK Computer, de percorrer vias mais experimentais e menos óbvias mas sempre com um pé na pop de melodia.
Em termos de influências, temos os já citados Radiohead, temos o inevitável Bowie (basta ver aquela capa a transpirar glam-rock), temos ligeiros toques de kraut, temos baladas de impecável gosto, há até um cheirinho de gospel aqui e ali.
Sente-se a intenção de Coombes de ser ambicioso nesta sua obra, provavelmente procurando deixar aqui um marco na sua carreira, para além das canções pop mais imediatas. Nada aqui é apressado, e quase todos os temas são cheios de pormenores que trazem textura e novas leituras.
O problema é que, de ir a tantos lugares diferentes e tendo uma voz obviamente boa mas não necessariamente marcante, é difícil ficarmos com uma indelével marca de quem é, agora, Gaz Coombes, e o que está a tentar dizer ou fazer. Não é Thom Yorke quem quer, e a faceta pop de Coombes leva quase sempre a melhor sobre a dor que, eventualmente, procurará exprimir aqui e ali.
O que Gaz Coombes fez, e isso não é um pequeno feito, foi um belo disco maduro, com muitos cantos para explorar, mostrando mais uma vez que há terreno livre para, no grande campeonato do pop-rock, fazer discos adultos e irrepreensíveis. Bem-vindo de volta, Mr. Coombes.