Nunca se sentiram incrivelmente sortudos por conhecerem determinada banda? É este o meu sentimento pelos Enablers. Lamento muito que não seja um sentimento partilhado por mais pessoas, ou pelo menos foi o que concluí, quando se juntaram, esta quinta-feira, menos de cinquenta cabeças para assistir ao regresso da banda a Portugal (com datas em Vila Real e Lisboa), depois da passagem pela primeira edição do Amplifest em 2011.
Os Enablers são aquilo que melhor designa “a minha cena”. O que me apaixona mais no trabalho deles é o incrível storytelling, conduzido pela impressionante personagem que é Pete Simonelli. Os músicos que o acompanham (duas guitaras e bateria) pontuam na perfeição cada tema-história, num tom próximo do pós-rock, sem nunca ser chato e sempre com a intensidade certa.
Foi o quinto longa-duração, The Rightful Pivot, que proporcionou o regresso ao nosso país, e foi um Musicbox frio (quanto mais não fosse pela falta de público) que recebeu o primeiro tema, “Went Right”. A música dos Enablers destila bebidas fortes, muito fortes, num ambiente de bar escuro e sombrio, onde o tipo do lado, já carregado, desenrola histórias desencantadas, marcadas pelas oscilações de humor próprias dos excessos. E isto é Pete Simonelli, poeta, performer como poucos, a convidar-nos a acender um cigarro a caminho do fim, enquanto recebemos a derradeira “Look”.
É difícil concentrarmo-nos noutra coisa que não Pete Simonelli. A teatralidade da performance é fascinante e acabamos inebriados pela presença do vocalista-contador-de-histórias, pela sua expressão corporal apurada, os gestos, aquela mão que com toda a certeza nos tocaria, estivesse a sala cheia. Cada tema é declamado de um modo quase feroz, arreliado, impetuoso. E dizer-vos isto parece-me sempre pouco e não chega para ilustrar a noite de quinta.
Pelo meio houve tempo para voltar aos registos anteriore e matar saudades de Output Negative Space e Tundra – ambos através dos temas homónimos, e “Patton” para Blown Realms And Stalled Explosions.
Digo-vos que no fim, arreliada fiquei eu. Não pelo concerto, porque os Enablers fizeram tudo bem. A desilusão no fim era culpa da ausência de público. Uma pena que mais não tenham assistido à estreia lisboeta dos Enablers e que por ridículos seis euros lhes tenha escapado a oportunidade de descobrir, ver ou rever um concerto de uma banda tão peculiar como esta. Ficará para uma próxima, a haver uma próxima.