Como categorizá-lo? Uma amálgama de pequenas histórias, ambientes andrajosos submersos num fumo escuro e denso? Obscuridade opiácea down-tempo? Bola de neve mirabolante?
Holonic-The Self Megamix. Para os que já me vão conhecendo um bocadinho melhor, o hip-hop não é propriamente a minha “chávena de chá”. No entanto, sou obrigado a reconhecer que há muito bons trabalhos nessa área. No que toca ao hip-hop, tenho duas editoras de referência: a Ninja Tune e a Mo’Wax (ambas londrinas). Atenção, não tenho nada contra o material oriundo dos Estados Unidos. São é escolas completamente diferentes. Uma mais jazzística, outra menos jazzística. Ora, e para os que já me vão conhecendo um bocadinho melhor, é óbvio que escolho a mais jazzística. Eu até já conhecia o DJ Krush. Sabia que era japonês, que tinha um estilo bastante dark, e que gostava de misturar samples de jazz com sons diversos da natureza. O que eu não sabia é que ele tinha tido o arrojo de gravar um self megamix. E se os megamixes são por si conceitos assustadores, então o que dizer de um próprio megamix! Mas há uma coisa que me chamou logo à atenção. A palavra Holonic.
Um hólon (do grego holos “todo”) é algo que é ao mesmo tempo um todo e uma parte. A palavra foi reinventada por Arthur Koestler, no seu livro The Ghost in the Machine de 1967. Koestler foi compelido por duas observações ao propor a noção de hólon. A primeira observação conclui que os sistemas complexos irão evoluir muito mais rapidamente a partir de sistemas simples, se existirem formas intermediárias estáveis nesse processo de evolução. Na segunda, o escritor concluiu que, embora seja fácil identificar sub-conjuntos, as partes, em sentido absoluto, não existe em nenhum lugar.
Contendo faixas (ou bocados das mesmas) dos álbuns a partir de 1994 – Strictly Turntabilzed até 1997 – Milight, DJ Krush transforma essa amálgama num erudito fluxo de livre coesão. Vai repescar o mais pesado de Milight, incluindo alguns segmentos falados desse álbum, sem mergulhar numa vibração tão agressiva como a de Doomy, álbum quase apocalíptico, contracenando com a doçura nipónica de Meiso. Atenção, a música de DJ Krush nunca poderá ser apelidada de alegre. Mas este disco em particular, apresenta um inusitado perfil brincalhão, perfil esse mais adormecido na restante parte do seu trabalho. É por isso que continua a achar que Holonic é uma excelente introdução à obra de DJ Krush.
O melhor dos dois mundos…