Em ’77, ano em que o punk explodiu, Bowie já estava a avançar em outra direcção: o flirt com o krautrock. Com o seu amigo e mentor Iggy Pop, refugiou-se em França e na Alemanha para explorar esse novo trilho criativo, feito de sintetizadores gélidos e claustrofóbicos. Bowie não se cingiu à influente triologia de Berlim (Low, Heroes e Lodger) pois também colaborou activamente na escrita e produção dos dois primeiros discos de Iggy Pop a solo: The Idiot e Lust For Life. Esses cinco discos partilham a mesma electrónica fria e distante, em total contraste com a euforia do glam rock. Destacamos aqui The Idiot, por ter sido o primeiro destes cinco a ser gravado. Não é preciso dizer muito para demonstrar a influência que este disco exerceu sobre o nascimento do pós-punk. Basta dizer que The Idiot ainda girava no gira-discos de Ian Curtis quando este foi encontrado morto. Escolhemos aqui “The Nightclubbing” por uma razão: é delicioso o contraste entre o statement de celebração da noite urbana e dançante e a ambiência gelada e quase doentia da sua sonoridade. Espectros dançando numa discoteca fantasma…
Canção do Dia: Iggy Pop – The Nightclubbing

Ricardo Romano
"Um bom disco justifica sempre os meios”- defendeu-se Ricardo Romano, ao ser acusado de ter vendido o rim esquerdo da sua tia entrevada para comprar uma edição rara do Led Zeppelin II - o melhor disco de sempre. O juiz não se convenceu, mandando-o para uma prisão com condições desumanas, onde uma vez foi obrigado a ouvir do princípio ao fim um disco dos Creed. Actualmente em liberdade, cumpre pena de trabalho a favor da comunidade no site Altamont mas a proximidade com boas colecções de discos não augura nada de bom.
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