“California Dreamin’” foi a música que elevou os The Mamas and The Papas a um estatuto inquestionável nos anos sessenta, mas a canção de amor ao estado americano nem sequer foi interpretada pela primeira vez pelo quarteto. Pelo menos sozinhos. Vejamos: o tema nasceu, de facto, da caneta de John e Michelle Philips, mas passou primeiro pela voz de Barry McGuire, com o duo encarregue dos coros. Mas foi a versão dos próprios, com a ajuda de Denny Doherty e Cass Elliot, que se tornou o verdadeiro hino das saudades de uma Los Angeles que muitos de nós construíram no imaginário precisamente graças à dita canção.
Poucos portugueses saberão o que é a saudade ardente de uma Califórnia solarenga, mas todos compreendem não só a saudade em si como a saudade do sol, do verão, da praia, do calor. Quando confrontado com um inverno sombrio, nada resta ao nosso protagonista senão sonhar com uma Califórnia distante. Phillips derrama a sua alma sobre o seu desempenho vocal, proclamando delirantemente que o desespero por tempos mais agradáveis é tanto que o leva a cair de joelhos e a rezar por esse tão bem-amada L.A. E chega-nos um dezembro, um janeiro, um fevereiro, um março ainda cinzento e chuvoso e um abril ainda mais e até aqueles de nós aos quais as temperaturas acima dos vinte e cinco dão enxaquecas não conseguem evitar a suspirar secretamente o quanto saberia bem, talvez, aqueles dias de praia que nunca mais acabam e aquele sol que nunca mais vai embora. Uns dizem para dentro e outros dizem para fora. Os The Mamas and The Papas dizem ao mundo inteiro. E convencem. Em breve sonharemos todos com uma Califórnia paradisíaca que eles nos conseguiram construir dentro da nossa imaginação: e não queremos mais nada.