Uma banda sonora totalmente instrumental, criada para um jogo, que aguenta por si só o peso de viver sozinha. Ser criada por um compositor português é a cereja no topo do bolo.
Apesar de algumas e boas iniciativas espalhadas pelo país, não podemos dizer que a nossa indústria de videojogos seja grande e cada caso de um jogo português chama à atenção. Ainda mais se o compositor também é português e faz um trabalho tão brilhante como este. E por isso surge este texto.
As comparações com a banda sonora do primeiro Medal of Honor vêm imediatamente à cabeça, embora nem o jogo nem as composições sejam do mesmo estilo. Mas o que quero dizer é que salta à vista, e ao ouvido, a qualidade de cada faixa. E também que Michael Giaccchino deve ter cuidado porque tem concorrência à altura.
O compositor Bruno Brôa, que passou por vários projetos indie nos anos 2000 (foi também autor de um disco incrível sobre a 1ª Guerra Mundial) e agora se dedica à composição para publicidade e peças de teatro, mostra bom gosto e sabe medir e interpretar ambientes e sensações, fazendo desta banda sonora um personagem, como um narrador que nos conta a história de Graham e Hannah. Mas é também com muita facilidade que se ouve esta banda sonora, por vezes serena, como em Blissfully Unaware mas também inquietante como em A Nice and Steady Heart, só por si, sem o videojogo a acompanhar. Isto porque as composições parecem pensadas num sentido mais tradicional, ou seja, música que mais que acompanhar, faz companhia.
A banda sonora de The Night Is Grey é ponderada sem nunca se tornar cansativa, e dei por mim a ouvi-la em loop para trabalhar. A mistura orquestral com a guitarra como em What The Shore Dragged In, por exemplo, é muito bem temperada e esta banda sonora nunca cai na repetição de tema-chave, o que faz dela um bom disco por si só.
Vale a pena espreitar o jogo, claro, e a banda sonora que ocupa um papel principal, já que intencionalmente não há voice over, dando espaço para a banda sonora brilhar completamente.
Espero que seja um bom sinal tanto para a indústria portuguesa de videojogos como para o compositor, que merece as luzes da ribalta e mais projetos de destaque, se continua a dar esta qualidade.