Justin Vernon é um homem feliz. É ele próprio quem o diz, numa entrevista ao Popcast, um podcast do The New York Times. Esse sentimento é transversal neste SABLE, fABLE.
Quando em Outubro passado, Bon Iver lançou o EP “SABLE” bem que dizíamos que sabia a pouco. Afinal era pirraça, porque quase seis meses mais tarde temos este belíssimo SABLE, fABLE. Era notório pelo EP, que Bon Iver tinha dado uma volta na sua sonoridade: voltamos a ouvir músicas mais acústicas, de letras menos indecifráveis, uma espécie de retorno ao maravilhoso For Emma, Forever Ago….
E que bom foi constatar que este novo álbum continua na mesma harmonia de reencontro. O álbum conta com 12 músicas (aproximadamente 40 minutos) e faz-nos lembrar as origens de quando o Bon Iver era só o Justin Vernon, numa versão menos “sad bastard music” (nas palavras do próprio), mais versão “pessoa que encontrou alguma espécie de paz interior e com isso uma felicidade inerente”. Gostamos muito desta versão.
O álbum arranca com “THINGS BEHIND THINGS BEHIND THINGS”, uma música que remete para temas de instrospecção e exploração desses nossos medos coletivos de mudança e de ver para além daquilo que está à nossa frente (“I can’t go through the motions, I can’t go through the motions. How am I supposed to do this now?”), numa melodia mais alegre e que invoca uma certa esperança.
“SPEYSIDE” e “AWARDS SEASON” são músicas que já tinham aparecido no EP e que são clássico Bon Iver: guitarra acústica, voz de Justin Vernon no seu tom mais agudo, sem recurso ao autotune, mais límpido e sim, mais do género do “sad bastard music”, mas que funciona tão bem, emotivo sem ser cringe, relembrando o tom do primeiro álbum (sem sentir o frio da cabana na floresta lá do Wisconsin).
O álbum tem esta harmonia entre músicas mais introspectivas e outras com mais garra, numa coerência que nos aquece o coração. Uma das músicas que melhor mostra este lado mais feliz de Bon Iver é a “Everything is Peaceful Love” que tem uma melodia sintetizada, mas com um refrão orelhudo (“And damn, if I’m not climbing up a tree right now. And every little thing is love”) e com um videoclip muito fofo realizado pelo John Wilson (https://youtu.be/yaPX-i1TjCc), da fantástica série “How to with John Wilson”, da HBO.
Mas, voltando ao álbum, é sim clássico Bon Iver mas reparamos que há coisas que não fazem um retorno em grande estrondo, nomeadamente o autotune (escasso neste álbum), os saxofones e as teclas de órgão que por vezes roçam o piroso, sem nunca o ser (“Beth/Rest” do segundo álbum, esta é para ti).
Sentimos, sobretudo, que apesar de ser um álbum com uma sonoridade reconhecível, traz sons novos e frescos, mostrando que Justin Vernon é um artista que desde 2007, e com 6 álbuns lançados, consegue evoluir continuamente, sem perder aquilo que é a sua essência.
Existem colaborações (ou não fosse Vernon sobejamente conhecido por elas), uma com a Danielle Haim (“If Only I Could Wait”), e outra com Dijon (que toca em tour com a banda) e Flock of Dimes (“Day One”).
As minhas redes sociais confirmam-me que o Justin Vernon anda em tour intensiva do lançamento do álbum, julgando pela quantidade de entrevistas que já me apareceram no feed. Numa dessas entrevistas, Vernon dizia que a sua música preferida do álbum é a “There’s a Rhythmn” (penúltima do disco) e conseguimos perceber: voltamos aos temas introspectivos, melodia suave, com direito a coro e que transmite um sentimento de full circle que nos guia numa aceitação da mudança que pode trazer paz interior (“Ya know I’ve really no more shame. Now things really are arranged. There’s a rhythmn, there’s a rhythmn”).
É um álbum coeso, bonito, esperançoso e que nos pede para ouvir muitas e muitas vezes.