JP Simões reinventa-se, mudando tudo: nome, língua, referências. O produto final é de uma beleza perturbadora que nos causa arrepios.
Entre 2007 e 2013, JP Simões grava quatro álbuns encantadores, que levam ao limite a sua obsessão pela música de Chico Buarque. Em 2016, JP fecha esse ciclo bossanovista, reencarnando num novo alter-ego, um tal de senhor Bloom, versado na língua inglesa e apaixonado pela folk psicadélica britânica do final dos sixties.
Na doce melancolia das canções e nos bucólicos dedilhados da guitarra, Bloom convoca Nick Drake. A influência é assumida na própria música através de breves citações da obra do mestre (“I’ll See You Then” pede emprestado a melodia de “Fly; “Route 44” rouba a guitarra de “Three Hours”).
A produção, assinada por Bloom e Miguel Nicolau, é inventiva, providenciando uma atmosfera etérea e pastoral, onde os sons se entrelaçam numa só substância difusa e sonhadora. A reverberação da voz de Bloom, e as dissonâncias avant-garde pinceladas de fundo, tingem todo o álbum no mesmo tom onírico, como se todos os dez temas fossem uma só grande e indistinta canção.
Se Roma se debruçava sobre o mundo, com o distanciamento que esse olhar para fora permite, Tremble Like a Flower é um olhar para dentro, uma dura conversa ao espelho, impiedosa, implacável, sem falinhas mansas ou subterfúgios. Os sonhos permanecem, eternamente jovens, mas na superfície fria do espelho um corpo desmancha-prazeres teima em envelhecer. Essa passagem inelutável do tempo atravessa todo o álbum, seja na nostalgia agridoce de um passado feliz, seja na dolorosa consciência dos dias que restam- punhado de areia dourada que escorre esquiva entre os dedos.
Pela sua maturidade e transcendência, Tremble Like a Flower é a grande obra-prima de JP Simões, um arrebatamento de beleza e mistério que nos faz estremecer.
Como ao vento estremece uma flor.
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