Blasted Mechanism || Sala Tejo: Cápsula do tempo

12 de abril de 2025. Os Blasted Mechanism aterram na Sala Tejo da MEO Arena para celebrarem em Lisboa – dias antes tinham tocado no Porto – os 30 anos da banda. Karkov e Winga foram os convidados de honra.

Criados a meio caminho dos anos 2000 por Valdjiu e Karkov numa garagem em Oeiras, os Blasted Mechanism cedo se destacaram pelo seu caráter singular e excêntrico, adjetivos que não são usados à toa quando um músico cria alguns dos seus próprios instrumentos e o vocalista o seu próprio dialeto, tão peculiar como indecifrável. Juntam-se uns tentáculos “a escorrer” pela cabeça e, na altura, a coisa não tinha como falhar.

E não falhou. 30 anos depois o som dos Blasted Mechanism vai resistindo ao tempo e às mudanças na formação. Hoje, como há três décadas, a banda continua a captar novos públicos, trazendo novos elementos à sonoridade tribal e eclética que lhes serviu de génese e uma nova identidade visual quase pós apocalíptica – o cruzamento de gerações no público presente no concerto da Sala Tejo assim o prova. Uma “família” diz Karkov, entretanto resgatado da calmaria da Índia, onde vive enquanto Rui Carvalho (nome inscrito no cartão de cidadão), depois de deixar a banda em 2008.

Karkov de novo à frente dos Blasted Mechanism como convidado, nem que seja por duas noites, foi como abrir uma cápsula do tempo intocada. Quase como se nunca tivesse realmente deixado a banda, num concerto que durou duas horas e percorreu todo o catálogo dos Blasted desde o ep Balayashi do longínquo ano de 96 até ao fresquíssimo “Blasted Universe”, single acabado de sair que conta com a participação do próprio Karkov.

A que vão soar os Blasted Mechanism no futuro? Nem eles o saberão, provavelmente. Só fica a certeza que, independentemente do tempo, vão continuar uma força criativa irreverente. Nadabrovitchka!