Benjamin Clementine apresentou-se pela segunda vez no Coliseu de Lisboa numa sala praticamente esgotada, com todos os bilhetes para Coimbra vendidos e os do Porto a caminho de esgotar. O músico britânico chegou com 20 minutos de atraso perante um público impaciente por repetir a experiência quase transcendente da sua visita a Portugal em Dezembro, àquela mesma sala. Clementine tornou-se muito rapidamente um fenómeno e tem uma legião de fãs em Portugal, tão ansiosos por o ouvir que foram várias as vezes em que se ouviram os “shiuuu” da plateia.
O espectáculo prometia. A acompanhar o seu toque de piano Clementine trouxe um baterista (e arranjos) e um quinteto de cordas para o acompanhar nalguns temas. Não desiludiu. Apresentou-se descalço, talvez a lembrar os tempos não assim tão distantes em que cantava no metro de Paris, antes de ser descoberto, de sobretudo apertado até ao pescoço, revivalismo de noites frias passadas na rua ou em abrigos. Clementine aproveitou bem o histerismo e a onda de calor com que o público português o recebeu. Com apenas um álbum na bagagem, At Least Nor Now, arrancou de imediato ao piano, sozinho, sentado ao piano de cauda num banco alto, todos ele pernas e braços compridos, levantando a perna e o pé descalço ao ritmo da música.
Só depois de “I Won’t Complain”, só ele no piano, é que cumprimentou o público, queixou-se do dia quente e apresentou o seu “amigo”. O baterista que o iria acompanhar nalguns dos temas. De imediato “Condolence” levou o público ao rubro, a comungar perfeitamente com o artista. Novos amigos surgiram. Cinco, mais precisamente. Violinos, violoncelos, um quinteto de cordas a acompanhar alguns temas e que elevaram “Nemesis” a um momento arrepiante com crescendos de efeito épico.
“London, Adious” ou “Cornerstone” não faltaram ao reportório e a juntar às músicas antigas apresentou alguns temas novos, num concerto que se adivinhava curto mas que Clementine esticou para hora e meia, com dois encores e até uma tentativa de cantar em português do Brasil, numa versão de “Burguesinha” de Seu Jorge em que praticamente não acertou numa palavra – o que ele próprio admitiu.
Quem o viu em Dezembro esperava o mesmo arrepio sempre que Clementine começava a cantar. Não aconteceu com o Altamont, da mesma forma, pelo menos desta vez. Clementine apresenta sempre concertos diferentes e talvez tenha sido a falta do efeito surpresa que retirou envolvimento ao espectáculo dado pelo músico e seus acompanhantes. Apesar da ligeira desilusão quando se esperava uma sensação de arrebatamento Clementine conquistou pela voz e pela simpatia um público que não quis arredar pé mesmo depois do concerto já claramente ter terminado.
Fotografias de Luís Flôres