
O calor desesperava os mais resistentes: era o início do Optimus (agora NOS) Alive!14. Fomos aos bastidores do palco Heineken conversar com os Temples, a banda que ainda agora apareceu e já domina o pop rock psicadélico. Connosco falaram Samuel Toms (baterista) e Tom Warmsley (baixista), que inverteram os papéis e começaram eles as perguntas:
Samuel Toms: O que é isto?
Altamont: São cigarras!
ST: Nas árvores?
Altamont: Sim, ficam loucas com o calor.
ST: Não sabia que podiam subir às árvores. Fuckin’ loud.
Altamont: E então… como é que começaram os Temples?
Tom Warmsley: Há alguns Verões, gravámos algumas canções no quarto do James e pusemo-las na internet. Com isso, arranjámos alguns concertos e, desde aí, não parámos de tocar. Só nos tornámos uma banda a sério nessa altura, antes éramos mais uma ideia imaginada. Crescemos numa pequena cidade chamada Kettering, nas Midlands, onde não acontece muita coisa. É uma daquelas vilas esquecidas, como há muitas nas Midlands, por isso tem de se trabalhar duro para conseguir sair de lá. Mas nós não saímos.
Entre as primeiras canções e o lançamento do primeiro álbum, passou-se mais ou menos um ano. O que é que vos lançou para o estrelato? Terá sido esse período de espera a mistificar-vos?
ST: Talvez. É bom meter as coisas cá fora o mais rápido possível, mas nós andávamos a fazer coisas entre as tours, então foi difícil de fazer isso.
TW: Estávamos preocupados que o interesse das pessoas desaparecesse, se demorássemos. Lançámos cinco músicas de uma só vez e depois demorou um ano a sair o disco, por isso, se tivéssemos sido nós a escolher, teríamos lançado o disco mais cedo.
Em relação à gravação do disco: ouvimos dizer que o fizeram num sítio mais pequeno do que uma casa de banho. É verdade?
ST: Sim. Num sítio mesmo muito pequeno.
O que fez então esse som tão explosivo e gigante?
TW: Provavelmente os reverbs que usámos…
Interessa mais o material que se usa ou o que se faz com ele?
ST: O que se faz com ele, definitivamente. Muitas grandes bandas fizeram álbuns incríveis do nada.
TW: Nenhum de nós tem muito dinheiro, por isso usámos tudo aquilo que encontrámos para utilizar na gravação. Beg, borrow, steal [mendigar, roubar ou pedir emprestado]– all the way. As ideias que tivemos é que moldaram o produto final.
Foi difícil passar o som do disco para o palco?
TW: No princípio, achámos que era impossível fazê-lo. Depois percebemos que era isso que faríamos, de qualquer maneira, visto que o palco é completamente diferente do estúdio e nos permite fazer coisas totalmente ao lado. Em estúdio, tem-se tempo para fazer tudo detalhadamente, enquanto ao vivo é uma energia e um ambiente diferente.
ST: Somos mais pesados e explosivos, ao vivo.
O que é que define, então, o vosso som? Quais são os ingredientes do vosso cocktail psicadélico?
ST: O nosso cabelo, acho eu…
TW: Cocktail psicadélico… [risos]
ST: O espírito que vive dentro de nós. Montes e montes de queijo.
TW: Isso, queijo.
Quais são as vossas influências, para além do queijo?
TW: Muitos filmes, bandas sonoras… Música que tenha um elemento visual, ainda que seja simplesmente auditiva.
É possível não se associar música psicadélica a drogas psicadélicas? Será possível, hoje, fazê-la sem elas?
ST: Eu acho que é, mas…
TW: Será? [risos] Será?
ST: Acho que sim. Quero dizer, não se depende delas… Mas podem ajudar, nalguns casos.
TW: Acho que movem a experiência, mais do que criá-la… Mas ajudam.
A música psicadélica feita sem drogas é tão real ou verdadeira quanto a música psicadélica feita com drogas?
TW: Depende da definição de realidade de cada um.
ST: E de psicadelismo. Há tantos géneros diferentes…
Se tivessem de definir “psicadélico” em poucas palavras, o que diriam?
ST: Não acho que se possa fazê-lo.
TW: A música não tem muito que ver com realidade. Tem mais que ver com experienciar algo a um nível diferente, portanto não faria muito sentido defini-lo.
ST: É difícil para nós dizê-lo. Essa palavra já foi usada tantas vezes que agora parece que toda a gente a usa para vender mais. Quando o grunge cresceu, o significado especial que tinha desapareceu.
TW: É a mesma coisa com a maioria do psicadelismo. Quero dizer, tivemos o prazer de tocar no Austin Psych Fest, em Maio, e toda a música feita lá é real. Sente-se que toda a gente o faz pelas razões certas e pode ouvir-se boa música no nível certo.
ST: Sim, pode-se andar às voltas e ir a qualquer palco e ver algo incrível. E esse é o bom lado da coisa, que a maioria das pessoas não vêem. As revistas e tudo o mais só se preocupam com as bandas de massa que se transformam em bandas psicadélicas.
O que é que têm ouvido ultimamente? Outros projectos neo-psicadélicos?
TW: Sim. Nós dizemos sempre os Goat. São mesmo bons.
ST: Sim, quero vê-los há já muito tempo. Há outra grande banda chamada Fever The Ghost, que faz parte da nossa editora, a Heavenly Recordings. São uma banda muito boa de Echo Park, Los Angeles.
TW: Também há muitas boas bandas já velhas mas na mesma de neo-psicadelismo, como os Warlocks, The Brian Jonestown Massacre, todas essas bandas.
Têm planos para um novo álbum?
TW: Temos planos para…
ST: Temos tentado planear, sim. Agora se teremos tempo brevemente…
E o som, será diferente? O primeiro disco foi gravado apenas com dois de vocês…
ST: Sim, claro. Não queremos fazer o mesmo disco duas vezes.
TW: Alcançámos aquilo que queríamos com o Sun Structures. Agora que isso está feito, queremos fazer algo diferente, porque queremos progredir.
ST: Como eu e o Adam nos juntámos à banda depois do processo avançar, de já ter o som definido e tudo o mais, não fazia sentido mudar a fórmula. Agora podemos começar de novo, com todos nós. Todos escrevemos canções, portanto será um bom esforço conjunto.