O Altamont esteve à conversa com o PZ no dia do evento Azáfama do Bairro no Teatro do Bairro. Eis as respostas às nossas perguntas.
ALTAMONT: O nome do teu álbum? Consideras-te um Rude Sofisticado?
PZ: (risos) O nome do álbum veio de uma brincadeira de amigos. Este amigo meu, num jantar, disse-me que achava que eu era um rude sofisticado. Aquilo bateu-me e acabei por me identificar com essa expressão e quando acabei de compilar o disco em 2012, vendo como é que tudo tinha ficado e o tipo de músicas, achei por bem por essa expressão e usa-la no álbum.
Como é que o PZ como músico chegou aqui, qual foi o processo?
A música, para mim, sempre foi um hobby. Sempre fui autodidata. Tocava tudo de ouvido, seja piano ou guitarra, sempre gostei de criar letras e melodias na cabeça. Mais tarde eu e o meu irmão começamos uma editora em 2004 chamada Meifumado, exactamente para escoar a nossa veia criativa. O primeiro disco PZ surgiu em 2005 com o Anticorpos, que define uma altura da minha vida onde eu estava com uma depressão e as pessoas me diziam para fazer o que eu quisesse, que com calma as coisas voltavam ao sitio, foi o que fiz. Surgiu uma música chamada “Sofá Efervescente” onde realizei um vídeo para essa mesma música com uma amiga minha, Filipa Cardoso. Isto foi o empurrão para fazer o disco todo, feito em casa, as coisas gravadas por mim com sintetizadores, samples, baixos guitarras e voz e aí comecei a definir um estilo próprio, a definir..
Uma carreira?
Não, nessa altura fiquei muito contente com o álbum, fiquei muito orgulhoso. Editei o álbum sozinho, fazendo tudo à minha maneira desde as fotografias à capa do álbum, mas decidi não dar concertos pois ainda era “muito verde” e estava mais na parte do hobby.
Entrei em outros projectos como o Paco Hunter, em 2008 e o Zany Dyslexic Band, que é uma banda de jazz psicadélico e rock, e foi aí que começamos a dar concertos. Comecei-me a habituar à coisa de estar em palco e por fim, com o Rude Sofisticado, decidi começar a dar concertos e tornar as coisas um bocado mais sérias para ver no que é que dava.
Depois com o tema “Croquetes” ou com os vídeos que fiz para o “O que me vale és tu” e o “Passeio”, as pessoas começaram a perceber qual era a minha cena, o meu tipo de humor e musicalidade.
Aquilo que era um hobby transformou-se em algo mais profissional?
Sim, se bem que o conceito de músico profissional é um bocado estranho. Não há regras nem horários e eu gosto disso. Gosto de poder ter os meus horários, fazer músicas quando me apetece sem ter horas marcadas para as fazer. Isso ajuda-me…Quando não era suposto estar a fazer música, estou a fazer, essa espontaneidade. O videoclip d’ “O que me vale és tu e o Passeio” surgiram assim, às três da manhã, e correram-me bem. A ideia da desorganização do ser humano é o conceito que tento transpor para a música.
Os temas das tuas músicas, como é que te surgem?
O Anticorpos são temas mais pessoais meus: São duvidas minhas, personagens minhas, exagero um bocado na minha maneira de ser, são metáforas de coisas que se passaram na minha vida. o Rude Sofisticado são temas mais mundanos, tal como a “Mundo”, ou “As Autarquias”, onde abordo temas como a corrupção mas sempre num modo light, não muito sério.
A “estranheza” com que fazes música também serve para aligeirar os temas que abordas?
Sim, mas tenho sempre com uma atitude séria (risos). O tema “Passeio” fala do mundo que se está a desmoronar mas nós só queremos é passeio, o mundo pode estar a cair mas o pessoal continua com a sua vida, e por mais que queiramos mudar o mundo, a pessoa tem que se mudar a si própria.
Já definiram o teu estilo como eletrónica de intervenção…
Sim, já me conotaram com isso, mas nunca gostei de me definir como género… Tanto que na minha própria música há quem ache que é mais hip hop, outras mais pop, alternativa ou eletrónica, se bem que há umas que nem o são. Revejo-me no termo de eletrónica de intervenção, se for com o sentido de querer dar uma nova perspectiva musical, gosto de intervir mas na música, fazer algo de diferente mas meu quase como uma intervenção mental.
Apesar disso eu percebo que talvez em temas como “As Autarquias”, “Mundo”, “Passeio” as pessoas quase imaginam um Sérgio Godinho mas com sintetizadores (risos) Acho que as pessoas também gostam de se pegar a algo, a alguma referência e o mundo do géneros é isso. Hoje em dia há tantos que já existe o género fusão, que é tudo, (risos) mas se tivesse que definir a minha música seria pop eletrónico, talvez.
Tens gostado de estar mais dentro do mundo da música?
Sim, acho que o tema “Croquetes” levou-me a um público mais abrangente, que gostou do conceito simples. Já o “Cara de Chewbacca” deu-me mais visibilidade e mais credibilidade para as pessoas quererem ouvir as minhas músicas de outra maneira, acabando um bocado com aquilo do: “quem é esse? Nunca ouvi falar.. não vou ouvir”. O “Cara de Chewbacca” chegou a um público maior e eu vejo nos concertos, estes enchem e o pessoal adere.
Tem sabido bem?
Sim claro, é sempre bom ver o nosso trabalho reconhecido. Quando damos concertos e vemos que as pessoas aderem e cantam as músicas e estão lá para ouvir, a adrenalina é completamente diferente. Quando está menos gente, também me divirto à minha maneira. Tenho gostado muito dessa sensação.
Tiveste uma namorada com cara de Chewbacca?
(risos)- Não, não. Sempre fui um geek do Star Wars, desde miúdo que vejo e sei os filmes de cor. Já o nome Chewbacca tem uma sonoridade muito engraçada, como a palavra croquetes. Chewbacca sempre foi um nome que me interessou. Conheci o dB pelo facebook, ele pediu-me para ouvir umas músicas dele, disse-me que curtia a minha cena. Eu ouvi e gostei muito, são beats old school, completamente instrumentais. Depois houve uma que me chamou a atenção, que estava no bandcamp, onde a capa do disco tinha um rapper com uma cara de chewbacca e logo aí inspirou-me para fazer uma música que integrasse a personagem de alguma maneira. Surgiu então o refrão com o sample da música do dB e depois construí uma história à volta dessa personagem. Claro que é um exagero, não há ninguém com a aquela cara (risos) mas é uma história que acontece. Encomendei a máscara e quando chegou já não havia volta a dar, tinha de fazer o vídeo. Chamei a minha prima e o vídeo saiu muito bem.
Qual é a tua tara por Croquetes?
(risos) Algumas pessoas entendem a simplicidade da música, outras tentam levar a explicação para coisas mais estranhas, mas basicamente é uma ode aos croquetes. Além de que é uma palavra que me fica na cabeça. Há o culto em Portugal da pastelaria, dos salgados, e os croquetes sempre nos acompanharam na nossa vida, em festas de anos, em casamentos…
Vemos ali um croquete, tiramos, ninguém viu…
Exacto, também falo nisso no próprio vídeo do “Croquetes”, onde olho para um lado e para o outro e tiro um, sem ninguém ver. A pessoa vai comendo e, às tantas, já nem fome tem para o prato principal “o bacalhau” que é o prato tradicional português. Há pessoas que levam para interpretações mais robustas, aliás num dos comentários ao vídeo, havia um que conseguiu ver na letra da música um conteúdo homossexual- o “sim aos croquetes” e “que se f@%da o bacalhau” associando às mulheres (risos). Eu levo isto sempre para a brincadeira porque tem graça pois os meus temas são sempre simples e ainda há quem faça interpretações surreais. No fundo, na música, há muitas possibilidades, há várias maneiras de a fazer, não há fórmulas e ainda há espaço para tentar fazer coisas diferentes, o importante é que uma pessoa se divirta com isso, e eu expresso-me desta maneira.
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(Fotos: Francisco Fidalgo)