Foi um ar morno que passou pelo Coliseu dos Recreios, que rebentou pelas costuras para ver os franceses Air.
Foi um ar morno porque o concerto não foi mau, mas também não foi excelente.
Ar morno, que vinha do palco para o público, que proporcionou alguns bons momentos, mas alternou esses com outros, mais mortiços.
Os Air já têm vários discos editados, uns bons, outros mais ou menos, e os concertos ao vivo nunca foram o seu forte. Dantes, actuavam em quinteto, agora só em trio, com um baterista a acompanhar Nicolas Godin e Jean Benoit Dunkel – que se encarregam de tocar tudo, com enfoque nas teclas, mas também há uma ou outra guitarra ou um baixo de vez em quando. Os Air preferem tocar ao vivo com esta formação, dizem que é mais próximo dos álbuns, porque aí também são eles os dois que tocam tudo.
Foi assim que se apresentaram no Coliseu, poucos meses depois de editar o novo disco, Love 2. Porém, não foi esse o prato forte do concerto. Eles não optaram por despejar as canções novas, e guardar os clássicos para os encores.
Também porque não vêm cá muito frequentemente (e por um lado ainda bem, porque hoje em dia há bandas que vêm cá 1 vez por ano, ou 3 vezes em 2 anos, e acaba por cansar, porque deixa de ter o efeito novidade, e passa a ser mastigado). Assim, os Air deram um concerto abrangente, que passou por quase todos os discos da carreira. Tocaram alguns temas do novo disco (entre eles, não o single que apresentou este Love 2), e depois foram passeando pelos anteriores, Talkie Walkie, Pocket Symphony e Moon Safari.
Em cerca de hora e meia, optaram por levar o público numa viagem quase hipnótica, com muitos temas instrumentais, alguns menos conhecidos, em vez de tocar só singles e canções em formato canção. A escolha não foi errada de todo, mas também terá sido por aí que o concerto não chegou nunca a “explodir”. Porque ao escolher hipnotizar, fizeram-no com canções mornas, que talvez fossem melhor ouvidas num concerto sentado. Com o Coliseu cheio como nunca o tinha visto, acho que aquelas pessoas queriam mais festa.
Ainda assim, no que toca à hipnose, não pode dizer-se que tenha sido mau. Bons momentos para ouvir de olhos fechados, para relaxar e deixar-se ir com o som. Bastava apenas estar nessa onda, à partida.
Na perspectiva pessoal deste que escreve, o concerto teve mais de bom do que de mau, embora pudesse ter sido bem melhor.
Em suma, um bom concerto para começar o ano, um começo em velocidade cruzeiro, à espera dos outros mil já marcados para este 2010.
Air – Coliseu dos Recreios – 16.01.10
Duarte Pinto Coelho
Nasci numa terça-feira de sol em Dezembro e reza a lenda que, nesse dia, o sino da igreja matriz tocou ininterruptamente durante uma hora. Autor de excelentes mixtapes gravadas da rádio, fui também exímio tocador de congas e arrependo-me bastante de não ter seguido carreira como músico. Tentei então ser jornalista mas foi como locutor que encontrei a melhor forma de fingir que não tenho um problema de dicção com os L (èles). A chegar aos 40, não me lembro de alguma vez ter passado um dia sem ouvir música. O meu maior desejo é que toda a gente use bigode e não diga mentiras.
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Estes últimos não me dizem nada, mas gostei do concerto que a banda deu no Festival Sudoeste em 2002, isso foi uma “trip”…
eu diria que se a hipnose resulta, o concerto só pode ser excelente. Se não passa de tentativa, é um concerto frustrante. Vi os Air por volta de 2004 (2003? 2005?) nesse mesmo coliseu e não hipnotizaram ninguém…