female:pressure celebra 27 anos a construir equidade na música eletrónica.
A 6 de setembro, o Village Underground Lisboa torna-se palco de uma das mais relevantes conversas da música eletrónica contemporânea. Electric Indigo (Susanne Kirchmayr), DJ e produtora austríaca que fundou em 1998 a rede female:pressure, traz a Portugal a apresentação de um projeto que se tornou referência mundial na luta pela equidade de género.
O que começou como uma resposta à narrativa de que “faltavam mulheres” no techno, rapidamente se transformou numa base de dados e rede de solidariedade transnacional que hoje inclui mulheres, pessoas trans, intersexo e não-binárias, somando mais de 3200 artistas de 90 países. Em Portugal, a rede ganhou forma em 2022 pelas mãos de Mayan (Ana Rita Costa) e Sara Wual (Sara Batista), que no Village vão sublinhar porque continua a ser essencial “agir local, pensar global”.
FACTS: números que não se podem ignorar
A female:pressure tornou-se incontornável quando, em 2013, publicou pela primeira vez o FACTS study, uma análise estatística que expôs, com números concretos, a desigualdade gritante nos line-ups de festivais de música eletrónica. Os dados mostraram o óbvio — mas até então invisível para muitos: em alguns dos maiores eventos mundiais, a presença de mulheres não chegava a 10%.
Ao longo da última década, a metodologia FACTS foi repetida e expandida, tornando-se uma ferramenta de monitorização crítica e de pressão pública. Graças a esse trabalho, a narrativa mudou. Muitos festivais sentiram-se obrigados a justificar a falta de diversidade nas suas programações. Outros assumiram compromissos públicos de mudança. A female:pressure, com o FACTS, mostrou que estatísticas também são ativismo.
Os resultados mais recentes (2012–2023) são claros: Portugal surge entre os países com menor percentagem de artistas mulheres e não-binárias, com menos de 13% dos line-ups. Ao lado de países como Rússia e México, o panorama português continua a expor a persistência de estruturas altamente desiguais na programação cultural.
O futuro da rede: crowdfunding e novo website
A sobrevivência e evolução da female:pressure dependem agora de uma campanha de financiamento coletivo. O objetivo é simples: lançar um website mais rápido, acessível e seguro, com perfis de artistas, pesquisa dinâmica e gestão robusta de dados.
Até ao momento, já foram arrecadados 6000€, uma conquista que prova a força da comunidade internacional. O objetivo é chegar a 8000€, valor que permitirá compensar de forma mais justa a equipa de desenvolvimento — que já dedicou meses de trabalho voluntário — e garantir custos operacionais para os próximos anos. Mais detalhes serão falados na Talk no dia 6 Setembro, no Village Underground.
Num ecossistema global onde a visibilidade pode ditar carreiras, apoiar esta campanha é investi numa plataforma que dá palco a quem tantas vezes é deixada fora dele.
Lisboa: festa, workshops e consciência crítica
A apresentação no Village Underground começa às 18h e contará com Electric Indigo a revisitar a história da rede, a mostrar pela primeira vez imagens do novo site e a falar dos desafios futuros. A seguir, Mayan e Sara Wual partilharão o percurso da female:pressure Portugal e a necessidade de manter vivo este espaço de visibilidade e partilha no ecossistema português.
Às 19h15, Electric Indigo troca o discurso pela prática e conduz um workshop gratuito sobre síntese granular, explorando o potencial criativo do Granulator II & III (Ableton Live), numa masterclass para produtores e curiosos.
Quando chegarmos às 23h, o armazém transforma-se em pista: uma noite dura de techno, acid e breaks, com Electric Indigo, Gabi von Dub, Sara Wual, Mayan e Thilo Goldschmitz, em colaboração com o coletivo alemão Liquid Sky Artist Collective.
A presença de Electric Indigo em Lisboa reafirma a dimensão política, cultural e social da música eletrónica. O FACTS study mostra Portugal entre os países com menor representatividade feminina e não-binária nos festivais. Nesse contexto, o Village Underground torna-se palco de afirmação e transformação.
Os lucros da bilheteira revertem integralmente para projetos de reflorestação no sul de Portugal, unindo a cultura eletrónica a uma ação concreta de responsabilidade ambiental.


