O sueco regressou a Lisboa com um concerto de memórias, emoção e uma voz que soa tão perfeita como há quase trinta anos.
Foi a minha primeira vez na República da Música e, honestamente, olhando para o edifício por fora, nunca diria que lá dentro existia uma sala de concertos tão funcional. A fila era longa, sinal de casa cheia, mas todos acabaram bem acomodados. O público estava pronto para receber Jay-Jay Johanson e, antes dele, Surma.
Confesso que, se me pedissem para escolher um artista português para abrir um concerto de Jay-Jay, teria sido difícil. Mas a escolha de Surma caiu que nem uma luva. A sua música, meio pop experimental, dreamy, de improviso dançável, garantiu o entretenimento da maior parte da sala, tirando, claro, os resistentes que insistem em pôr a conversa em dia durante os concertos. Como costuma dizer uma amiga: “espero que o concerto não atrapalhe a sua conversa.”
Quando Whiskey, o primeiro álbum de Jay-Jay Johanson, saiu em 1996, eu tinha 14 anos. Foi o disco que mais ouvi nesse ano e em muitos outros. Ainda hoje há resquícios disso no meu last.fm. Por isso, ouvir aquelas canções ao vivo, tantos anos depois, foi um reencontro, uma experiência quase religiosa.
O público era composto por fãs devotos, desses que sabem as letras todas, que oferecem flores e que se emocionam ao longo da noite de partilha. As emoções subiam fortes, tanto em canções mais recentes, como “Where Is the Cat”, como nas mais antigas. Mas foi nos temas de Whiskey e Poison que a nostalgia bateu mais forte. “The Girl I Love Is Gone”, “So Tell the Girls That I’m Back in Town”, “Far Away” — não precisavam de introdução. Todos sabíamos o que vinha aí.
Quando chegou “Whispering Words”, a sala congelou. Houve um instante de suspensão total: ninguém se mexeu, ninguém respirou. A música e a voz soavam perfeitas, iguais ao disco.
“It Hurts Me So” e “I’m Older Now”, ambas escondidas no encore, souberam ainda melhor. Quem saiu mais cedo, perdeu.
O encore fechou com uma versão de “My Way”, de Sid Vicious. Jay-Jay desceu do palco, abraçou a primeira fila e soprou beijos para as restantes, com o maior sorriso do mundo. Um sorriso que esteve presente durante todas as pausas entre canções, em contraste com o ambiente melancólico das suas composições.
Mesmo depois de ele sair, a plateia continuou a dançar, como se quisesse agarrar o concerto com unhas e dentes, para não o deixar acabar.
Depois de um dia de trabalho e de uma noite mal dormida (culpa da trovoada), a vontade inicial era ficar em casa, pijama vestido, Netflix and chill. Ainda bem que decidi o contrário. Sair de Benfica e vir até Alvalade revelou-se a melhor escolha: um daqueles concertos, entre as largas centenas que vi nos últimos cinco anos, que não se apagam da memória tão cedo.
Fotografias: Hugo Amaral




































