Conhecido pelas suas letras introspectivas, sarcásticas, mordazes, mas de uma doçura encantadora, Micah P. Hinson pega naquilo que já nos habituou tão bem e fá-lo em grande.
Aos primeiros acordes de “Oh Sleepyhead”, faixa que abre o álbum, percebemos que há uma mudança em Micah P. Hinson. Acompanhado pela Orchestra Filarmonica di Benevento (do Norte de Itália), o crescendo dos arranjos, transporta-nos para uma outra dimensão. Poderão dizer “que exagero”, mas não. Há uma riqueza e leveza sonora que eleva a música e que é transversal ao longo do disco.
Este The Tomorrow Man tem um brilho desconcertante. Não estamos surpreendidos, no mais recente concerto que deu no Musicbox (Lisboa), em maio de 2025, Hinson mostrou-nos que este brilho corre-lhe nas veias.
Ao contrário de álbuns anteriores, onde a acústica e sentimentos pesados e sufocantes reinavam, há uma subtil ligeireza que nos surpreende. Atenção, não queremos dizer que não continuem a existir sentimentos destruidores, mas parece-nos que agora há um equilíbrio com sentimentos mais leves. Aliás, o que transparece ao longo do disco, é que Micah P. Hinson é um Homem Apaixonado.
Isto faz-nos lembrar aquela história do Father John Misty quando lançou o “I Love You Honeybear” que, numa entrevista, diz qualquer coisa como “estava super apaixonado e lamechas e quis fazer uma coisa grandiosa, digno daquilo que estava a sentir”, a propósito do uso de arranjos orquestrais no disco. Realmente, homens apaixonados é uma coisa bonita de ver.
Claro que continuamos no reino da folk americana, com a imagética dos cowboys e nativos bem presente (Hinson, sendo ele próprio de Memphis, Tennessee, de ascendência Chickasaw), ao mesmo tempo que quase que sentimos os picos dos cactos, o bafo quente do deserto e a dança ritmada dos cavalos. O mais interessante é que a par disto, também conseguimos visualizar uma orquestra completa, assim bem espetada no meio do deserto.
O disco transmite-nos uma sensação arrebatadora de Esperança e Amor, reforçada pelos complexos arranjos musicais e composições que são clássico Micah P. Hinson e, ao mesmo tempo, uma sonoridade maior e “agigantada”.
Algumas das nossas faixas preferidas são as que onde mais sobressaem estes arranjos orquestrais: “Oh Sleepyhead”, “One Day I Will Get My Revenge”, “The Last Train to Texas”, “I Was Just Standing There”.
The Tomorrow Man é um álbum incrível, muito coeso na sonoridade, que não tem medo de se expandir e que merece ser ouvido na sua plenitude.