Às vezes, com limões, nem sempre se faz limonada.
Tempo. Esse vento que nos leva sem pedir licença. É bondoso com alguns, que envelhecem deslizando suavemente ao longo dos anos, e menos benevolente com outros, que pela aparência que ganham o passado parece estar mais longe. É triste, pois o rapaz carismático e atraente a quem se dava o nome de Evan Dando é apenas uma longínqua memória, que está cristalizada na voz jovial que vive nos álbuns dos Lemonheads, e hoje assume a forma de um desajeitado e mal-humorado gigante.
A noite de 24. A noite em que esperava finalmente assistir àquilo que por questões logísticas (ter nascido neste século) não consegui nos anos 90, acabou por ser um espetáculo na fila da frente para a absoluta decadência. Falo apenas de Evan, claro. O resto da banda eram homens novos e deviam ser músicos contratados. Mas provavelmente já velhos conhecidos, pois tanto dominavam o incompreensível dialeto à base de grunhidos em que Evan tentava comunicar – e que levou a cómicos desentendimentos com o público – como reagiam com total naturalidade aos seus algo frequentes acessos de loucura, continuando a tocar como se nada se passasse.
Mas se fosse só isso, tudo bem. O pior foi não ter conseguido tocar uma música do início ao fim. E as partes que tocou não podiam vir sem lapsos, desleixos na estrutura e uma frase ou outra nos seus herméticos grunhidos, talvez na tentativa de acasalamento com um yeti que estivesse nas redondezas. Porque se não era o som que não estava do seu agrado, era a música que estava a tocar que não coincidia com a do resto da banda ou os malandros dos pedais da sua guitarra que fugiam teimosamente às suas ordens, levando a incluir alguns momentos de sapateado ao espetáculo. Que também vou contar como aspeto positivo da performance.
Ouviu-se (dentro do possível, claro) os hits que levaram trinta daquelas quarenta pessoas a clicar no botão de comprar, menos “It’s a Shame About Ray”. O que foi – vai ter de ser, desculpem lá – uma pena. Algumas músicas novas, que não estão mal, e ainda um momento acústico. Mas não se entusiasmem, porque não foi nenhum Unplugged do Eric Clapton. Foi unplugged, essa parte até está bem, porque ele teve a revolucionária ideia de tirar, de facto, o cabo da sua guitarra e ainda, incumbido de uma confiança vinda não sei de que público (houve muitos momentos em que desconfiei estar na mesma dimensão que ele), decidiu erguer-se na grade e tocar no meio do seu adorado povo. Bom, eu só consegui perceber que música estava ele a tocar, e acho que falo tanto por mim como pelo resto do público que não as cinco pessoas ao pé dele, por outras pessoas, com uma audição impressionante, que também cantavam. Lá voltou, acompanhado de um coletivo bufar de alívio, para os seus preciosos e prestáveis amplificadores, de onde sacou uma versão de Landslide, dos Fleetwood Mac, que foi talvez o ponto alto da noite. Tudo isto foi muito interessante e incrivelmente triste.
É triste para mim, porque tinha expectativas. Deve ter sido mais triste para o resto que tinha boas memórias. A idade não perdoa, foi o que se retirou desta esquecível e inesquecível noite.
Isto para dizer que no dia 24 de setembro de 2025 fui aos Olivais comprar uma t-shirt.
Fotografias: Rui Gato













