Na noite em que Amélia Muge e Ana Lua Caiano partilharam o palco, a música portuguesa ganhou um novo sentido. Duas artistas, tão distantes temporalmente, uniram-se de forma perfeita e harmoniosa.
Amélia Muge e Ana Lua Caiano foram as protagonistas da segunda noite de “Conta-me uma Canção”, e as expectativas estavam altas. Dizia-se que seria uma apresentação especial, e acredito que o público já estava rendido antes do concerto começar.
Em palco, o ambiente era intimista, ainda que a mise-en-scène de Conta-me uma Canção fosse sempre a mesma – uma parafernália de instrumentos musicais. No entanto, Amélia e Ana Lua, com o calor das suas emoções, aproximavam-nos delas enquanto viajavam por sonoridades tradicionais reinventadas, cruzando o património musical com a experimentação eletrónica e a poesia.
A atuação foi dividida em quatro quadros, cada um explorando diferentes dimensões da experiência musical e poética. O primeiro quadro abordou as origens, memórias e identidades, com temas como, por exemplo, “Maria” de Zeca Afonso e “Olha, Maria” de Ana Lua Caiano, refletindo as diferenças entre as Marias. O segundo quadro explorou a ligação do corpo com a tecnologia e as linguagens, destacando a técnica ligada à linguagem. Seguiu-se um terceiro momento focado na saúde, doença, equilíbrio e desequilíbrio, incluindo a deliciosa história do diabo que apanha Covid e a interpretação da tradicional “Senhora dos Remédios”. O último quadro refletiu sobre os ciclos da vida e da morte, com momentos marcantes como “O Tempo Arrefece” de Zé Mário Branco.
Desde os primeiros acordes, era evidente que esta não seria uma atuação comum e as previsões de uma noite especial iam cumprir-se. Amélia Muge, com a sua voz inconfundível e interpretação intensa, conduziu o público por histórias carregadas de emoção e simbolismo. A seu lado, Ana Lua Caiano trouxe um sopro de modernidade, com os seus loops e camadas sonoras a envolverem cada tema numa atmosfera quase hipnótica. A cumplicidade entre as duas levou a um dos mais bonitos encontros de Conta-me uma Canção. Espero durante muito tempo conseguir conservar as memórias desta noite, onde só pensava em poder “engarrafar” o momento para conservar durante a minha existência.
Alinhamento:
- Passarada
- Maria + Olha, Maria
- Chove Muito, Chove Tanto
- A Garra Do Macaco
- Mão Na Mão
- Patapassando
- Aparecimento Dos Desertos
- Senhora Dos Remédios
- O Bicho Anda Aí
- O Tempo Arrefece
- Se Dançar É P’ra Depois
- A Viúva Do Enforcado
- Deixem O Morto Morrer
Encore:
- Taco A Taco
Fotografias: Hugo Amaral






























