Morram os Hippies, Morram! PIM!
A pré-história do Punk, na voz de Iggy e os seus comparsas.
Longe das guerras de alecrim e manjerona preconizadas pela contracultura hippie, no lado Oeste do país, ouvia-se o eco, no final da década de 60, de uma contra-revolução emergente. Na região dos “grandes lagos”, no estado do Michigan, nascia em Detroit uma nova estética disruptiva que viria, inevitavelmente, a abalar o mundo das artes performativas e a deixar um lastro de destruição difícil de apagar. Desejando matar a arte, não conseguiram, porém, tomar a decisão de o fazer de forma plena. Falo-vos do movimento apelidado, a posteriori, de Proto-Punk, no qual os MC5 e os Stooges foram os seus principais mentores.
A negatividade enquanto princípio representa a atitude comum a todos aqueles que se lançaram nesta aventura destruidora. No entanto, esta unanimidade da revolta podia abranger processos muito diferentes: para uns, a destruição bastava-se a si mesma; para outros, constituía somente uma etapa para fazer favorecer a eclosão de uma nova ordem. Quando é que é necessário parar de demolir? Será possível destruir e reconstruir ao mesmo tempo? Permitam-me responder ao repto que aqui deixo: Sim.
A fúria vertiginosa a que Iggy Pop, Ron & Scoot Asheton e Dave Alexander se lançaram, a partir de 1967, é a «prova de contacto» que sublima a ideia.
Depois do álbum homónimo lançado pela Elektra Records, em 1970, a banda começou, de forma errante, a sua caminhada rumo à merecida conquista de notoriedade na cena alternativa do País.
O segundo álbum apresentou-se, assim, como uma extensão aprimorada do primeiro. Refinamento que se torna notório sobretudo na gravação e mixagem do registo. Fun House é um monstro sem lei. Uma peça niilista em sete actos, feita de vitupérios e bragues veladas à cultura burguesa. Ao multiplicar os actos escandalosos, os Stooges tinham, então, conseguido lançar a perturbação nos espíritos; trazendo à luz a inanidade de todos os valores da civilização ocidental, tinham podido minar os respectivos fundamentos. Nada de mais Dadaísta se poderia esperar.
São sete os temas que compõe o álbum. Arranjos despojados, letras simples e distorção no máximo. No começo de “Down On The Streets” temos de nos esforçar para não associar aqueles gemidos tresjurados à figura de Jim Morrison. Com efeito, a componente performativa é o Cavalo de Troia de Iggy Pop que, sem nunca o assumir, ter-se-á ancorado no frontman dos Doors. O efeito aglutinador de Iggy cedo se fez notar. Podemos escrever sobre os Stooges, mas na prática, ao fazê-lo, estamos a perorar apenas sobre o ego e persona daquele que foi um dos maiores intérpretes que o Rock viu nascer, construindo uma banda feita à sua imagem e semelhança, como se de um objecto autoral se tratasse. Stooges e Iggy Pop confundem-se nos seus termos.
“TV Eye”, “Dirt” e “1970” são outros dos temas que demonstrarão a virulência do álbum e que ajudarão a construir nos EUA e no outro lado do Atlântico novos pressupostos estéticos que irão desaguar, em meados da década de 1970, no Punk Rock.