Fintando obstáculos, saltando buracos e trepando montanhas, as Cartaxo Sessions continuam aí para nos dar música e ânimo! Desta vez, The Jack Shits e Asimov Folkways trataram-nos da alma, do corpo e torceram-nos as tripas! What a show!
“Gettin’ old, gettin’ grey
Gettin’ ripped off, underpaid
Gettin’ sold, second-hand
That’s how it goes, playin’ in a band”
AC/DC – “It’s a long way to the top (if you wanna rock ‘n’ roll”)
Podem descansar. Não se segue mais um fado sobre as agruras de bandas, promotores ou mesmo wannabe jornalistas musicais! Por outro lado, não relaxem por completo. Vou insistir em louvar e agradecer a todos os maluquinhos da música que insistem em compor, ensaiar, gravar discos, tocar ao vivo, organizar concertos e festivais, divulgar bandas e artistas … e tudo, e tudo e tudo! E nada por fama, e menos ainda por dinheiro! É o underground!
Tudo isto a propósito de mais uma edição das Cartaxo Sessions, dos seus doze anos de sangue, suor e lágrimas para nos mostrar o melhor que se vai fazendo por estes subsolos a baixo, e do cancelamento do concerto das fantásticas dUAS sEMICOLCHEIAS iNVERTIDAS, por motivos de força maior, a poucos dias do evento. Tudo isto a propósito de termos tido o privilégio de assistir às atuações de dois nomes que julgávamos entretanto desaparecidos no combate da realidade da vida adulta vs sonho (adolescente) do Rock’n’Roll.
Em vésperas do lançamento do single “Ayeres en ayers (Uluru Blues) / Fahey’s dog” na primeira edição da Feira Fulminante de 2025, Asimov Folkways – personificado por Carlos Ferreira (guitarra e voz dos infelizmente adormecidos Asimov, baixo e voz dos saudosos Brainwashed by Amália) – veio salvar o dia e presentear-nos com as suas composições baseadas no rico legado do folk alternativo, de onde se destacam artistas como John Fahey e Michael Chapman, encharcadas em blues onde terão caído umas raspas de ácido e alguns vapores prog. Após a, entrada em hibernação, ainda difícil de engolir, de Asimov, Carlos Ferreira tropeçou numa série de caixas de madeira de carvalho que tinha espalhadas pelo chão da cave e caiu no buraco de coelho do longo e precioso arquivo da banda. Depois de editar preciosidades como o single Zambia e o dez polegadas em colaboração com Acid Acid, esta queda assumiu proporções assombrosas ao ponto de atingir os primórdios de Asimov e do seu então projeto paralelo Asimov Folkways.
Empenhando a sua viola de cordas de aço, Carlos Ferreira conduziu-nos por uma viagem à raiz da alma passando por temas como “Gaivota” e “Shadows of Summer” que reconhecemos das suas versões elétricas dos Asimov, “Ayeres en Ayers (Uluru Blues)” e “Fahey’s Dog” do single agora editado e culminando no encore “The Underground King”. Sublime!
Alma refeita, tempo de tratar do esqueleto, dos músculos e das entranhas, e para tal, nada melhor que um trio de especialistas em rock’n’roll, com doutoramento em garage e um post-doc em punk! Duas guitarras e uma bateria! Toneladas de energia, hectolitros de suor e os mais belos decibéis! The Jack Shits deram baile, espetáculo e provocaram o êxtase coletivo.
Depois de uma primeira fase explosiva vivida na segunda década do século, em que encheram o país de eletricidade muito pouco estática e editaram o longa duração Chicken Scratch Boogie, um EP e um disco ao vivo, a vida forçou a banda a suspender atividade por uns demasiado longos 7 anos. Como dizia o outro, (vão procurar quem foi, agora os nossos heróis são outros), “Everything will be okay in the end. If it’s not okay, it’s not the end”, e, portanto, estava escrito que eles iriam voltar. E que nós, sortudos, haveríamos de ter a sorte de os ver, de os dançar e delirar! Oh Yeah!!! Para o fim de festa, convocaram-se lendas como os energéticos Them e mesmo os deuses Patti Smith e Stooges – “Gloria” encheu o Centro Cultural do Cartaxo até nos tornarmos todos os nossos cães!
















