Na passada sexta-feira, dia 17 de Outubro, os neozelandeses The Beths subiram ao palco do LAV para aquele que seria o último concerto da digressão europeia.
Desde os primeiros acordes, ficou logo evidente para o público o entrosamento e a leveza que só se atingem no final de uma tour. Foi música atrás de música, com uma fluidez impressionante e, ao mesmo tempo, era claro o quanto a banda estava ali para se divertir.
Não cheguei a tempo de ver a banda da primeira parte, os também neozelandeses Dateline. Cheguei a verificar se haveria um concerto de abertura, mas no site do LAV constavam apenas os horários de abertura de portas e de início do concerto — que, afinal, se referiam à atuação dos The Beths. Uma pena, porque ouvi comentários muito positivos sobre o concerto à saída e, pelo movimento junto à banca de merchandise, pareceu-me que impressionaram o público lisboeta.
Esta digressão assinala o lançamento do mais recente álbum, o excelente Straight Line Was a Lie (lê aqui a nossa crítica). A banda continua a surpreender pela forma como consegue transportar para o palco toda a complexidade dos discos — dos petardos power pop à doçura indie, dos solos de guitarra às harmonias a três vozes presentes em todos os álbuns. E sim, até “No Joy”, com o seu interlúdio de três flautas doces tocadas em simultâneo.
Os The Beths — formados por Elizabeth Stokes (voz e guitarra), Jonathan Pearce (guitarra e backing vocals), Benjamin Sinclair (baixo e backing vocals) e Tristan Deck (bateria e backing vocals) — são uma banda esteticamente coesa desde o início da carreira, e a escolha do pano de fundo e das luzes durante o concerto evidencia esse cuidado. Um cuidado presente desde a transição da música ambiente até à faixa ruidosa e familiarmente melódica que marcou a entrada da banda em palco. Um cuidado que também se revela na construção do alinhamento — com passagens entre temas que podem passar despercebidas ao público, mas que exigem grande naturalidade.
O início do concerto surpreendeu pela energia do primeiro bloco de canções — verdadeiros petardos melódicos e doces no melhor sentido possível. “Straight Line Was a Lie”, “No Joy”, “Silence is Golden” e “Future Me Hates Me” foram tocadas de seguida, com refrões tão marcantes e contagiantes que era impossível não abanar a cabeça ao ritmo da bateria. E todos à minha volta pareciam concordar.
Era impossível manter essa intensidade ao longo de todo o espetáculo, e por isso a banda abrandou o ritmo, passando para temas mais calmos. Um dos meus momentos favoritos foi “Til My Heart Stops”, em que a reverberação da voz de Elizabeth, as muitas camadas de harmonias vocais e o arranjo esparso das guitarras fizeram com que as paredes parecessem aproximar-se, criando um conforto sensorial raro.
Entre músicas, apresentaram o blogue gastronómico de Benjamin Sinclair, o Breakfast and Travel Updates, claramente um daqueles cantos peculiares da internet que recordam a web de há 30 anos. Infelizmente, ainda não há qualquer entrada sobre a passagem por terras portuguesas.
O bloco final do concerto trouxe de volta a energia do início, com a parede de som que é “Little Death”, e o público voltou a pôr-se de pé e a saltar. Seguiu-se “I’m Not Getting Excited”, que abre o excelente Jump Rope Gazers (2020), mantendo o ritmo em alta. E, para encerrar a noite, não poderia haver escolha melhor do que “Expert in a Dying Field” — uma das minhas músicas mais ouvidas de 2022 —, com o público a cantar em uníssono na despedida dos The Beths.
Acompanho a banda desde o lançamento de Future Me Hates Me em 2018, quando me parecia que estavam por todo o lado — ou pelo menos em quase todos os e-mails que recebia de uma determinada mailing list musical. Quem me dera tê-los visto antes, mas a precisão e a leveza que demonstraram nesta digressão europeia — apoiada no excelente novo disco e num punhado de canções retiradas de Future Me Hates Me, Jump Rope Gazers e Expert in a Dying Field — deixaram-me plenamente satisfeito e renovado para o fim de semana.
Fotografias: Valter Dinis

















