Num dia pleno de guinadas sónicas, fomos da celebração ao culto, passando pela emoção do silêncio! O segundo dia do Sonic Blast foi uma montanha russa de tudo o que a música nos dá!
O Sol parece espreitar, mas a névoa persiste!
Hoje, a alvorada é um pouco mais tarde (ou menos cedo, se preferirem). Perfeito para uns recuperarem dos excessos da noite anterior e para o vosso repórter conseguir acabar o relato do primeiro dia. Ao contrário de ontem, os primeiros sons são mais tranquilos. Os japoneses TŌ YŌ preferem ir lá com calma, mas o certo é que vão. Os sons mais ambientais, mais chill, ficam arrumados no início da atuação. Progressivamente, o ritmo e a intensidade vão aumentando em conjugação com a utilização dos vários pedais de efeitos, desenhando belíssimas espirais coloridas. Não, não estou sobre o efeito. Estava sim a almoçar, finalmente, depois das chapas tiradas. Almoço bamboleante ao som do feitiço nipónico. Estou mesmo ali ao lado e pressinto o mesmo encantamento no público, sobretudo quando o ritmo e o peso crescem – já que é aí que os gritos de excitação se ouvem melhor! Vão lá ouvir Stray Birds from the Far East (2023), sff e imaginem ainda melhor porque ao vivo soa ainda mais orgânico!

Seguem-se duas referências do Underground português que tenho tido a sorte de acompanhar nestes últimos tempos. Podem ser consideráveis as diferenças de estética e de sonoridades, mas a luta é a mesma assim como a forma como dentro e fora do nosso país continuam a percorrer os árduos caminhos do Rock n’ Roll!
Os Nagasaki Sunrise lançaram Distroyer no fim do ano passado, e desde aí, os seus Burning Spirits foram da cave encantada do Vortex na apresentação do disco até aos Estados Unidos! Por aqui, o poder do quinteto de Lisboa é tal que o Sol decidiu vir espreitar um espetáculo que não se limita à sua componente sónica! O front man Gasolizna e os seus comparsas sabem como envolver o público e sacar headbanging e air guitars como poucos!
Que saudades já tinha destes três. Já lá vai bem mais de um exageradamente longo ano do fantástico concerto no musicbox. Na minha opinião, os Sunflowers são das melhores bandas atuais no fantástico mundo do garage rock psicadélico, ali ao lado dos Ohsees (ou lá como se decidiram chamar agora). As cavalgadas da Carolina soam cada vez melhor e vão agarrando o Sonic Blast com o andar do alinhamento! As três vozes em conjunto são uma delícia de maluqueira. Carlos apresenta um tema novo e aproveita para reforçar o anúncio da publicação do sucessor de A Strange Feeling of Existential Angst do já longínquo 2023! You have fallen …. Congratulations! sai em novembro próximo com o selo da Fuzz Records! Cá fora dança-se e irrompem focos de baile, que mais tarde ganharão forma de mosh, onde se junta o próprio Carlos durante o último tema! Que bom! Tudo!

O festival está coberto de barretes vermelhos. A aposta resulta duplamente. O apoio à banda é difícil de passar discreto desta forma e … esgotaram o stock na bancada do Merch. Torna-se complicado levar a coisa a sério, mas não há problema, os próprios autores da proeza, auto intitulam-se belgium shenanigans. Os Gnome são um power trio que domina os meandros do universo da música pesada: há para ali momentos de doom, prog, stoner, ou simplesmente Hard rock. Basicamente lidam tão bem com riffs como com piadas! Música pesada, ambiente leve! Contrapeso de Amera? :)

O Sol chegou antes dela, como se a dar sinal do que para aí vinha. Emma Ruth Rundle ocupa, só, apenas com a sua guitarra, o imenso palco principal do Sonic Blast! E depois, e depois veio o Silêncio! O Blast veio precisamente desse Silêncio que se espalha pelo recinto … como o melhor acompanhamento às roucas cordas da guitarra (que tom!!!) e à profundeza da voz de Emma! Depois da explosão sónica dos Slift no ano passado, é uma bomba de silêncio melódico que me arrebata este ano! A voz da cantora americana sabe a aguardente com mel. Um doce arder que nos turva a mente e nos deixa em paz! Belo!

Preparados para mais uma guinada sónica, felizmente cada vez mais ao jeito deste festival? É melhor estarem, pois os Chalk não vos dar outra hipótese. Afinal, os moços vieram de Belfast com o especial propósito de cobrir silêncios. E para não deixarem dúvidas, a bateria junta-se à caixa de ritmos e reabre-se a pista de dança encerrada ontem após a atuação dos Máquina! O balanço dançante toma conta das colunas, enquanto compassos noise lutam contra ambiências mais próximas do EBM das discos góticas do século passado. Há, no entanto, muitas arestas no som dos Chalk que os distinguem desses contextos, nomeadamente a agressividade punk na voz e entrega de Ross Cullen. O EP Conditions III está aí desde fevereiro a criar a expectativa de contribuir para a banda sonora destes tempos conturbados. Dystopia on the dance floor! A ideia não é nova, até porque neste mundo só vão mudando as conturbações, fica a luta, fica a festa e ganham-se novas esperanças!
O nome não engana, os alemães My Sleeping Karma vêm novamente mudar o registo. Tudo se torna muito mais redondo, harmonioso e espiritual. Uma mistura de space rock, stoner e aromas orientais invadem o espaço. A mole por detrás das barreiras, fecha os olhos, fuma umas coisas ou ambas … mas todos se deixam pairar!
Seguem-se os suecos Witchcraft e tudo volta a mudar. A atmosfera é mais escura, mais lenta e densa! Entrámos no Doomínio das trevas, se me permitem a liberdade linguística! Já não se paira, arrasta-se… tudo aqui é pesadíssimo!
Com mais de 20 anos de existência, o trio liderado por Magnus Pelander, acaba de lançar IDAG, o seu sétimo longa-duração. Magnus parece fazer o que quer da sua guitarra, mas é com a sua voz que nos encanta. Somos serpentes bailarinas presas à terra à custa do baixo pesadíssimo da gigante Ida Tennerdal. A bateria de Jussi Kalla finge-se de moribunda até rebentar em espasmos eletrizantes. Deuses, que recital!

Do feitiço ao transe! Para não variar, nova cambalhota. Muda tudo, mas ao mesmo tempo continuamos agarrados. Do Doom passamos à eletrónica post industrial, mas continuamos agarrados! Dame Area é um duo de Barcelona composto por Silvia Konstance e Victor L. Krux! É disfuncional, maquinal, disruptivo, doentio, viciante, radical. O fim da picada dirão uns, um belo fim de dia, dirão outros … como eu!
Fotografias e texto por Rui Gato















































