No ano em que se assinalam os 50 anos do 25 de Abril, Sérgio Godinho, uma das vozes da Revolução, levou o seu espectáculo Liberdade 25 ao esgotado Coliseu de Lisboa em mais de duas horas de canções de liberdade.
No Coliseu, o concerto foi anunciado como uma “celebração de uma carreira que se confunde com a história do quotidiano português” e eu não podia concordar mais. Desde os anos 70 que Sérgio Godinho nos canta sobre o país: a situação política, os amores e desamores, as introspecções de um ser, no fundo são 50 anos a poetizar a vida.
Esta transversalidade nas canções de Sérgio Godinho fez com que sempre chegasse a um público heterogéneo, por isso, a plateia do Coliseu tecia-se de diferentes pessoas: pessoas mais velhas com roupas de domingo, jovens alternativos com os seus totebags, casais cúmplices, grupos de amigos, pais com crianças, e outros.
Todos eles, nas suas diferenças, tinham uma coisa em comum, a ânsia pela liberdade. Nem todas as canções interpretadas ontem falaram abertamente sobre liberdade, mas todas a têm implícita, uma das conquistas de Abril. E os maiores aplausos da noite foram para a Revolução, após “Maré Alta”, a ovação durou minutos e a frase da noite foi dita pelo SG Gigante “O solo que pisamos é livre, defendamo-lo”, fica para reflexão.
Em palco, como habitual, Os Assessores acompanharam o mestre. Parece que os novos arranjos (sob a direcção de Nuno Rafael) às antigas canções são cada vez mais brilhantes. Para além dos Assessores que recorrentemente acompanham Sérgio Godinho (Nuno Rafael, Miguel Fevereiro, João Cardoso, Nuno Espírito Santo e Sérgio Nascimento) juntou-se Sara Côrte-Real.
Também actuou o grupo à capela, Canto Nono, que interpretou “Etelvina”, acompanhados por SG. Mas a grande convidada da noite foi A Garota Não. Quando a artista entrou em palco houve um borburinho na sala, e muito merecido. A interpretação de “A Balada da Rita” foi memorável, a Cátia transformou-se em Rita e em todas as “Ritas” retratadas na canção, enquanto o seu predecessor de canções assistia inebriado na sua cadeira, que mais parecia um trono. Contudo a comoção de Godinho iria atingir o pico com a homenagem de A Garota Não com o original “Diga 33”, a cantautora compôs um tema apenas com nomes de canções de Sérgio Godinho, este momento não estava no alinhamento e foi uma surpresa, incluindo para o próprio.
Quando terminou “Um Brilhozinho Nos Olhos”, os músicos saíram do palco e ouviram-se vários minutos de aplausos, no encore tivemos “Os Vampiros”, com o merecido aplauso de pé a Zeca Afonso, e “Liberdade”, com gritos de ordem: a paz, o pão, habitação, saúde, educação! O 25 de Abril de 1974 está a aproximar-se dos 50 anos, mas continuamos a sonhar com os seus ideais, agora mais que nunca.
O final, depois de mais uma saída de palco, aconteceu com “O Primeiro Dia” e um coro de vozes cantou em uníssono enquanto eram projectadas imagens de Sérgio Godinho, Zeca e Zé Mário, muitos começaram a chorar. Ao meu lado, um homem com mais de 70 anos, chorava de punho cerrado no ar. É a representação de uma geração que lutou pela liberdade e se comove com aquelas vozes de Abril. Sérgio Godinho e os seus pares serão eternos e assim como as suas canções, esgotemos as salas por onde ele passa e gritemos a liberdade.
Alinhamento:
- O Rei Do Zum Zum
- Já Joguei Ao Boxe
- Foi Aos 25 Dias De Abril
- Foi A Trabalhar
- Grão Da Mesma Mó
- Cuidado Com As Imitações
- Maré Alta
- Mariana Pais
- Na Prisão
- Domingo No Mundo
- Dancemos No Mundo
- Espectáculo
- O’Neill
- Quatro Quadras
- Ora Vejam Lá (Conjunto António Mafra)
- Etelvina
- Que Força É Essa
- O Charlatão
- Coro Das Velhas
- A Grande Sale da Caridade (Inédito)
- Bem-Vindo, Sr. Presidente
- Balada Da Rita
- Diga 33 (A Garota Não)
- Dilúvio
- Com Um Brilhozinho
Encore 1:
- Os Vampiros
- Liberdade
Encore 2:
- O Primeiro Dia
Fotografias de Rita Carmo cedidas pela organização.












